Violência contra mulheres lidera notificações em unidades de saúde de MS
Levantamento mostra que casos de agressão superam doenças como sífilis e meningite no estado
MULHERESA violência contra mulheres se mantém como a principal causa de notificação em unidades de saúde de Mato Grosso do Sul. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) mostram que, somente em 2025, dos 24.247 agravos registrados em serviços públicos e privados, 7.436 vitimaram mulheres — o equivalente a 30,6% de todos os registros feitos no estado até agora.
O número chama atenção por refletir uma realidade persistente e alarmante: as mulheres continuam sendo o principal alvo dos episódios de violência atendidos em unidades de saúde, com 62,8% das notificações neste tipo de agravo. A base da análise é o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), mantido pelo Ministério da Saúde e consolidado no Painel Mais Saúde, da própria SES.
Casos de violência superam doenças infecciosas - Entre os tipos de agravos obrigatoriamente notificados, a violência é a que mais aparece nos relatórios das unidades, representando 48,86% do total. Neste universo, estão incluídas agressões físicas, domésticas, sexuais e até casos de violência autoprovocada.
Para efeito de comparação, a segunda maior causa de notificação em 2025 — as intoxicações por animais peçonhentos — contabilizou 7.405 registros, número inferior ao total de notificações apenas com vítimas mulheres por violência.
Além dos casos de agressão, o Sinan inclui notificações de outras ocorrências graves como acidentes, tentativas de suicídio e doenças como sífilis, meningite, hanseníase e tuberculose. Toda vez que um desses eventos chega a uma unidade de saúde, é feito um registro oficial, conforme as normas de vigilância sanitária.
Série histórica revela padrão preocupante - Nos últimos dez anos, a violência vem liderando o ranking de agravos em Mato Grosso do Sul. Entre 2015 e 2025, foram 109.351 registros desse tipo, o que representa mais da metade (53%) de todos os 206.091 agravos notificados no estado.
Deste total, 68.989 envolvem vítimas do sexo feminino — o que significa que 63,1% das agressões registradas no período atingiram mulheres. Em termos gerais, essas ocorrências representam 33,48% de todos os agravos notificados envolvendo o público feminino ao longo da última década.
Jovens e adolescentes são maioria entre as vítimas - O recorte por faixa etária mostra que a maioria das vítimas mulheres está entre 0 e 34 anos. Acima dessa idade, os números diminuem gradativamente. Quando observados os dados históricos desde 2015, a maior concentração de casos está entre meninas e mulheres de 0 a 17 anos, com um total de 31.259 registros.
O padrão se mantém em 2025. Das 7.436 notificações de violência contra mulheres neste ano, 3.427 envolveram vítimas com até 17 anos, o que representa 46,09% do total. Esse dado reforça a necessidade de políticas públicas mais eficazes de prevenção à violência, especialmente voltadas para crianças e adolescentes.
Alerta para os serviços de saúde - A predominância da violência nas notificações de agravos mostra que os serviços de saúde têm papel central na identificação e no encaminhamento desses casos. Embora a área da segurança pública também seja envolvida, é nas unidades de saúde que muitas vítimas fazem o primeiro relato.
Diante desse cenário, especialistas e gestores da saúde reforçam a importância da capacitação de profissionais e da ampliação dos canais de apoio às vítimas. O volume de notificações também é um indicativo da confiança na rede de saúde como porta de entrada para buscar socorro e proteção.