Protesto na Paulista expõe avanço dos feminicídios e pressiona por respostas urgentes
Manifestação reúne mulheres e movimentos sociais após série de crimes brutais registrados em SP e no país
VIOLÊNCIA DE GÊNEROManifestações marcaram a tarde deste domingo (7) na Avenida Paulista, em São Paulo, em um ato contra o feminicídio. O protesto ocorre em meio a uma sequência de crimes violentos contra mulheres que chocaram o Estado e o país, reacendendo a cobrança por políticas públicas mais eficazes no enfrentamento à violência de gênero.
O feminicídio, tipificado pela Lei 13.104/2015, prevê punição agravada para homicídios cometidos contra mulheres em contexto de violência doméstica ou motivação de gênero. A legislação, entretanto, contrasta com a escalada recente de casos.
Casos recentes que chocaram o país - Os episódios que motivaram o protesto incluem crimes de grande repercussão na capital paulista. Taynara Santos, de 31 anos, teve as pernas amputadas após ser atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê. A defesa sustenta que o motorista agiu de forma intencional com o objetivo de matá-la. Já Evelyn de Souza Saraiva, de 38 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro enquanto trabalhava na zona norte da cidade.
Casos graves também foram registrados em outras regiões do país. No Recife, uma mulher grávida e quatro filhos morreram em um incêndio cuja suspeita recai sobre o pai das crianças, preso em flagrante. No Rio de Janeiro, duas funcionárias do Cefet foram mortas por um servidor da instituição no fim de novembro. Em Brasília, o corpo carbonizado da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, foi encontrado após o soldado Kelvin Barros da Silva confessar o crime, investigado como feminicídio.
Recorde histórico em SP agrava alerta - Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) revelam que a cidade de São Paulo atingiu, em apenas dez meses, o maior número de feminicídios desde que o crime passou a integrar a legislação penal em 2015. O índice já supera o total registrado em qualquer ano anterior, o recorde anterior havia sido em 2024, com 51 casos ao longo de doze meses.
Esse crescimento pressiona autoridades estaduais e municipais a reforçar estratégias de prevenção, acolhimento e proteção às vítimas, especialmente em regiões onde a subnotificação permanece elevada.
Cenário nacional também preocupa - O aumento não se limita a São Paulo. Dados do Ministério das Mulheres apontam que, em 2025, o Brasil já ultrapassou 1.180 feminicídios, enquanto o Ligue 180, canal de denúncia e orientação, registra quase 3 mil atendimentos diários relacionados à violência contra mulheres.
O Mapa Nacional da Violência de Gênero mostra que, em 2024, cerca de quatro mulheres foram assassinadas por dia em razão do gênero. Especialistas indicam que o avanço das denúncias se combina a falhas estruturais na rede de proteção, ampliando a vulnerabilidade de mulheres em situação de risco.
Na Avenida Paulista, manifestantes carregaram cartazes e faixas pedindo justiça e reforço de políticas de prevenção. A concentração reuniu movimentos feministas, coletivos independentes e familiares de vítimas, destacando que o enfrentamento ao feminicídio exige ação integrada entre Estado, sociedade e instituições de segurança.
Os organizadores defendem a ampliação de delegacias especializadas, programas de abrigamento, atendimento psicológico a sobreviventes, além de campanhas permanentes de conscientização.
A mensagem central ecoada no ato foi inequívoca: a escalada da violência contra mulheres não pode ser normalizada, e o país precisa responder com urgência.