José Maria Tomazela | 05 de dezembro de 2025 - 12h50

CNBB nomeia dom Arnaldo Carvalheiro como interlocutor da Igreja com comunidade LGBTQIA+

Bispo de Jundiaí terá missão nacional de diálogo e acolhimento com grupos católicos ligados à população LGBTQIA+ no Brasil

RELIGIÃO
Bispo de Jundiaí, dom Arnaldo Carvalheiro Neto - (Foto: Divulgação)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nomeou o bispo de Jundiaí, dom Arnaldo Carvalheiro Neto, como o novo interlocutor da Igreja Católica com a comunidade LGBT+ no país. A nomeação, válida pelos próximos três anos, foi oficializada em documento assinado em 17 de outubro e representa um passo inédito na relação da Igreja com fiéis que fazem parte dessa parcela da população.

Com 58 anos, dom Arnaldo passa a ser o responsável por acompanhar a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+, formada há mais de 15 anos por iniciativas de cristãos leigos em diversas regiões do Brasil. Apesar da missão ter alcance nacional, ele continuará exercendo normalmente a função de bispo diocesano de Jundiaí (SP).

“O papel que a CNBB me confiou é de articulação. Os grupos podem entrar em contato para partilhar necessidades, buscar orientação e dialogar com a Igreja local”, explicou dom Arnaldo.

A escolha do bispo foi feita pela presidência e pelas comissões da CNBB, que identificaram a necessidade de estabelecer uma mediação pastoral dedicada a essa realidade. O convite foi feito pessoalmente pelo secretário-geral da entidade, dom Ricardo Hoepers.

Dom Arnaldo enfatizou que sua missão é promover a comunhão, escutar, orientar e acompanhar, sem ideologias ou reducionismos. “É um espaço de escuta, discernimento e de comunhão, em que os fiéis serão acompanhados com misericórdia e dignidade”, afirmou.

A nomeação foi recebida com entusiasmo por membros da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTQIA+, que destacaram o gesto como um marco de acolhida e um sinal de que a Igreja está disposta a construir pontes com grupos historicamente marginalizados.

Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+, avaliou a decisão da CNBB como um avanço significativo. “Como gay, católico, casado há 33 anos, pai de três filhos batizados na Igreja, vi essa nomeação como um sopro de atualização da Igreja”, declarou.

Reis lembrou que a trajetória da comunidade LGBT+ dentro da história cristã foi marcada por perseguições, exclusões e estigmas. “Essa nomeação é uma evolução enorme. Pode parecer um passo pequeno para a CNBB, mas é um passo gigante para nós”, acrescentou.

Na diocese de Jundiaí, a Pastoral LGBTQIAPN+ já atua desde 2021. Os encontros mensais envolvem orações, rodas de conversa, momentos de escuta, leitura de textos bíblicos e formação doutrinária. A proposta é criar um ambiente seguro e respeitoso para a vivência da fé.

“O papel do bispo é profundamente eclesial: acompanhar, escutar, orientar, rezar junto e garantir a comunhão com a Igreja”, explica Samuel Vidilli, gestor de comunicação da diocese.

Natural de São Paulo, dom Arnaldo tem sólida formação teológica e espiritual. Estudou Filosofia na Unisal e concluiu os estudos sacerdotais no Instituto Teológico Rainha dos Apóstolos, em Marília (SP). Também possui especializações em direção espiritual e capelania hospitalar, com formação complementar em Chicago (EUA) e Dublin (Irlanda).

Ordenado padre em 1997, foi nomeado bispo pelo papa Francisco em 2016. Antes de assumir a diocese de Jundiaí, atuou em paróquias do interior paulista, incluindo Araçatuba, Birigui e Itapeva.

Em mensagem recente à diocese, dom Arnaldo reafirmou a doutrina da Igreja em relação à família, mas defendeu a importância de olhar cada pessoa com misericórdia e respeito. “Acolher com misericórdia não significa aprovar tudo ou relativizar a verdade. É, sobretudo, reconhecer a dignidade que Cristo vê em cada ser humano.”

A nomeação de um bispo como ponte entre a Igreja e os grupos católicos LGBT+ reflete também os sinais de abertura promovidos pelo papa Francisco nos últimos anos. O pontífice tem insistido que a Igreja deve ser “casa de portas abertas”, mesmo sem renunciar a seus princípios doutrinários.