Lula afirma que não quer votos de agressores e promete mobilização masculina contra feminicídios
Presidente se manifesta após casos de extrema violência; São Paulo já registra recorde de feminicídios em 2025
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHERDiante da crescente onda de feminicídios e casos brutais de violência contra mulheres no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira (2), que pretende liderar uma mobilização nacional entre homens para combater essa realidade. Ele também declarou que não deseja votos de agressores.
“Quem bate em mulher não precisa votar em mim. Essa mão que bate em uma mulher não precisa votar em mim. É uma vergonha ser violento”, disse o presidente em discurso.
A fala ocorreu um dia após Lula ter comentado, em evento público, sobre o pedido feito pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, para que ele assuma uma postura mais firme contra a violência de gênero. O tema foi reforçado durante entrevista à TV Verdes Mares, no Ceará, onde o presidente relatou que acordou no domingo com Janja chorando após acompanhar notícias de feminicídios.
Casos recentes chocam o país - O pronunciamento ocorre em meio a uma sequência de crimes que chocaram o país. Em São Paulo, uma mulher teve as pernas amputadas após ser atropelada e arrastada por um carro na zona norte da capital. Em Pernambuco, um homem matou a esposa grávida e os quatro filhos ao incendiar a casa da família. Em outro caso, um agressor descarregou duas pistolas contra a companheira. Na Bahia, uma criança de dois anos foi vítima de violência sexual.
Segundo levantamento oficial, São Paulo já registra, em 2025, o maior número de feminicídios dos últimos dez anos.
“Eu resolvi assumir a tarefa de tentar criar uma mobilização de homem nesse país. Porque a violência é do homem contra a mulher. Nós homens vamos ter que criar juízo, criar vergonha, nos educar”, afirmou Lula. “O que não dá é para aceitar como normal o cidadão achar que tem direito sobre a companheira dele.”
Campanha contra a violência ainda sem formato definido - Apesar das declarações contundentes, Lula não deixou claro se pretende transformar o discurso em uma política pública oficial ou em campanha institucional. Ele afirmou que o movimento deverá ser baseado em responsabilidade masculina e respeito dentro das relações.
“É uma campanha de homem que tem vergonha na cara, que tem caráter, que tem respeito, que quer criar sua família, dizer para o seu amigo: não bata na mulher, não seja violento, se você não gosta mais dela toma um rumo e vai embora”, disse o presidente.
O presidente já havia abordado o tema em outras ocasiões, inclusive com declarações polêmicas. Em julho de 2024, durante reunião no Palácio do Planalto, Lula comentou sobre uma pesquisa que relacionava aumento da violência contra a mulher com jogos de futebol e tentou usar tom descontraído — o que acabou sendo interpretado como uma gafe.
“Hoje eu fiquei sabendo que tem pesquisa que mostra que, depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, tudo bem”, disse na ocasião, tentando relativizar o dado. A fala foi criticada por movimentos sociais.
Agora, diante da escalada dos feminicídios, o presidente adota tom mais duro e direto. “A mão da gente foi feita para trabalhar, para fazer cafuné, e não para fazer violência na mulher”, reforçou.
Especialistas e entidades feministas cobram ações concretas por parte do governo federal para fortalecer as políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher, incluindo ampliação da rede de proteção, financiamento de centros de acolhimento e atuação mais incisiva na educação preventiva de gênero.