Jovens recém-formados ganham espaço em políticas públicas de MS
Programa de trainee completa dez anos, coloca recém-formados em 12 órgãos e soma mais de 300 horas de formação com projetos de dados, indicadores e proteção de informações
JUVENTUDENo Mato Grosso do Sul, uma turma de recém-formados tem feito algo que costuma levar anos para acontecer no serviço público: entrar e já participar das decisões. Eles integram o Programa Trainee de Gestão Pública, iniciativa que há dez anos leva jovens de alto potencial para dentro do Governo do Estado e os coloca em atuação estratégica em 12 órgãos estaduais.
A rotina desses trainees passa por tarefas que parecem frias no nome, mas quentes no efeito. Eles ajudam a elaborar indicadores que apoiam gestores na tomada de decisão, participam de políticas de proteção de dados e entram em projetos como contratos de gestão, que organizam prioridades e resultados de secretarias inteiras. Tudo isso com formações que, somadas, ultrapassam 300 horas.
Um dos exemplos é o brasiliense Eduardo Barbosa, formado em Comunicação Organizacional pela Universidade de Brasília. Ele atua na Segov, na Unidade Central de Proteção de Dados Pessoais, onde auxilia na construção de normas que regulam a proteção de dados no Poder Executivo Estadual. É um trabalho com leis, tecnologia e escolhas administrativas, além do desafio de conciliar áreas com prioridades diferentes para que o Estado consiga fazer as ações saírem do papel.
Barbosa diz que, ali, o grupo consegue antecipar tendências e atualizar o Estado com o que há de mais novo no debate sobre privacidade e proteção de dados pessoais. “Na UCPDP, conseguimos antecipar tendências e atualizar o Estado com o que há de mais novo no debate sobre privacidade e proteção de dados pessoais. Esse é o tipo de experiência que só um programa com foco estratégico e inovador poderia proporcionar”, afirma. Ele resume a vivência como aprendizado direto sobre uma mudança silenciosa no jeito de governar. “A vivência no órgão tem sido uma verdadeira aula sobre como a técnica se tornou indispensável à gestão pública moderna. Ao valorizar liderança e gestão estratégica, o programa de trainee oferece o ambiente ideal para desenvolver esse olhar”, completa.
A troca de um governo para outro também entrou no pacote. Ao comparar o trabalho anterior no Distrito Federal com a atuação no Mato Grosso do Sul, Barbosa diz que o deslocamento ampliou o repertório e a visão sobre políticas públicas. “Migrar de um contexto administrativo para outro, com desafios regionais completamente distintos, foi um catalisador de aprendizado”, considera.
O programa não exige que o trainee fique no Estado depois, mas muita gente fica. Bruna Ribeiro Campos Diniz é um desses casos. Engenheira química formada pela UFMG e mestre em Administração Pública pela UFMS, ela entrou como trainee e hoje é servidora da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos.
Antes de ser contratada, Bruna passou um ano e oito meses na Coordenadoria de Estudos, Análise e Riscos Estratégicos, ligada à Segem e à Segov. Nesse período, participou da construção do mapa de riscos estratégicos, do sistema de indicadores do Plano Plurianual e do Contrato de Gestão. Foi reconhecida como uma das vencedoras do Prêmio de Inovação do Governo do Estado. Agora, no cargo, ela aplica no cotidiano as políticas que ajudou a desenhar.
Bruna conta que cresceu vendo os pais, servidores públicos em Minas Gerais, e imaginava que as decisões do governo eram quase sempre políticas. O programa mudou a leitura. “Hoje, entendo que existe um processo técnico robusto por trás de cada decisão, com análises, estudos e avaliações. A política faz parte, mas não define tudo. A máquina pública é complexa, e cada escolha precisa considerar cenários, impactos e limitações”, afirma.
Ela diz que, na rotina do governo, descobriu também algo menos glamouroso e mais realista: os bancos de dados ainda estão em construção. O Estado evolui aos poucos, com ajustes e tentativas. Nesse caminho, ela questiona uma ideia comum, a de que inclusão e prosperidade seriam opostos. “Com boa gestão, é possível alinhar as duas coisas”, afirma.
No fim, Bruna descreve o serviço público como um lugar onde técnica, dados e impacto social se cruzam. A motivação, segundo ela, não vem só de vocação. Vem de ver gente trabalhando para melhorar o Estado e de perceber que números, relatórios e decisões podem mudar vidas. “Sinto que consigo devolver algo ao nosso Estado, porque ele já me deu muito. Minha admiração cresce ao ver que existe esforço real em aprimorar a gestão, e que cada dado, cada decisão, pode transformar a vida das pessoas”, conclui.
A aposta do governo em gente jovem não é um acidente, segundo o secretário-executivo de Gestão Estratégica e Municipalismo, Thaner Nogueira. Para ele, o programa é uma oportunidade estratégica para fortalecer a administração pública. “Essa nova geração exerce um papel fundamental na construção de uma gestão pública mais moderna, profissional e orientada a resultados. Eles trazem consigo uma combinação rara de domínio técnico, sensibilidade social e capacidade de inovação, atributos essenciais para enfrentar os desafios contemporâneos do Estado”, diz.
Thaner descreve uma dinâmica repetida: os trainees chegam com sede de inovação, aprendem com a experiência do servidor, e devolvem novas metodologias. O resultado, na visão dele, é mais ambicioso do que parece. “Mato Grosso do Sul está formando uma nova geração de quadros públicos preparados para liderar o futuro da administração estadual, uma gestão mais eficiente, transparente, digital, inclusiva e orientada a evidências. Um encontro que gera valor público e consolida uma cultura de governança”, afirma.