José Maria Tomazela | 01 de dezembro de 2025 - 14h50

Empresário acusado de matar gari admite que estava armado, mas nega disparo

Renê Júnior foi preso após discussão no trânsito que terminou com a morte de Laudemir Fernandes em Belo Horizonte

VIOLÊNCIA URBANA
Empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, acusado de matar gari durante discussão no trânsito em Belo Horizonte - Foto: Reprodução

O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, acusado de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes durante uma discussão de trânsito, falou pela primeira vez à imprensa desde sua prisão. Em entrevista exibida neste domingo (30) pela TV Record, Renê admitiu estar armado no momento do crime, ocorrido em 11 de agosto, em Belo Horizonte, mas evitou assumir a autoria do disparo que matou o trabalhador. Ele se referiu ao caso como um "incidente".

A declaração foi dada durante conversa com o jornalista Roberto Cabrini, no presídio de Caeté (MG), onde Renê está preso preventivamente. Apesar de confirmar sua presença na cena e o porte da arma, ele negou que tenha ameaçado os garis e disse que só foi instruído a não comentar o caso no início da investigação por orientação de seus advogados.

“O incidente pode ter acontecido. Até onde eu posso dizer, por causa do processo e por orientação de meus advogados, eu posso admitir que aconteceu um incidente”, afirmou o empresário.

Versão é contestada por provas e testemunhas - A defesa da vítima contesta a tentativa de Renê em suavizar os fatos. O advogado de acusação, Tiago Lenoir, classificou as declarações como uma tentativa de remodelar a narrativa. “É impressionante assistir alguém tentar remodelar os fatos com tamanha imaginação. O processo é inequívoco”, afirmou.

Testemunhas relataram que o empresário teria ameaçado os coletores de lixo antes de efetuar o disparo. Uma delas afirmou ter ouvido Renê dizer: “Se vocês encostarem no meu carro, eu dou um tiro na sua cara”. Ele nega. “Se batesse o carro, era só uma porta. Não a vida de uma pessoa. É muito diferente”, alegou o acusado na entrevista.

Durante a conversa, Renê Júnior confirmou que não possuía porte legal de arma e disse que se armou por conta própria após receber ameaças de um suposto bicheiro. A arma utilizada no crime, uma pistola Glock calibre .38, não era registrada em seu nome. Ele também negou ter furtado o armamento da esposa, Ana Paula Balbino, que é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais.

O empresário também afirmou que buscou orientação de um coronel da Polícia Militar após o crime, mas negou ter pedido tratamento privilegiado por ser casado com uma autoridade policial.

Acusação formal e negação de habeas corpus - Renê responde por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma e fraude processual. A Justiça já aceitou a denúncia e ele pode pegar até 30 anos de prisão. Na última quarta-feira (26), o réu foi ouvido pelo 1º Tribunal do Júri Sumariante de Belo Horizonte, mas optou por não responder todas as perguntas e negou que tenha confessado o assassinato.

A defesa teve um pedido de habeas corpus negado pela Justiça, que entendeu não haver ilegalidades na condução da investigação pela Polícia Militar, como alegado pelos advogados do empresário.

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público de Minas Gerais, Renê Júnior deixou sua casa em Nova Lima com destino a Betim portando uma arma de fogo no veículo. Ao se deparar com um caminhão de lixo que bloqueava parcialmente o trânsito, no bairro Vista Alegre, ele teria se exaltado e ameaçado os trabalhadores da coleta.

Inconformado com a lentidão no tráfego e, segundo o processo, demonstrando "notório desprezo pelos trabalhadores", Renê teria feito um disparo, atingindo Laudemir de Souza Fernandes na região abdominal. O gari chegou a ser socorrido, mas morreu em decorrência do ferimento.