Justiça Restaurativa avança no presídio masculino de Ponta Porã com ações inéditas no MS
Atendimentos e círculos de paz ampliam projeto de reintegração social que já atua na unidade feminina da comarca
SISTEMA PENALO Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) deu mais um passo na ampliação das práticas de Justiça Restaurativa dentro do sistema prisional. Entre os dias 26 e 28 de novembro, a equipe do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) iniciou as atividades no Presídio Masculino da comarca de Ponta Porã. A iniciativa integra o Plano Estadual Pena Justa e já vinha sendo aplicada desde agosto na unidade feminina da mesma comarca.
A ação é idealizada pela juíza Thielly Dias de Alencar Pitthan, titular da 1ª Vara Criminal de Ponta Porã, com apoio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc), coordenado pelo juiz Adriano da Rosa Bastos.
Círculos de paz e prevenção dentro da prisão - Durante os três dias de atividades, foram realizados círculos de construção de paz e círculos preventivos com detentos da unidade masculina. Além dos atendimentos diretos à população carcerária, a equipe também promoveu momentos de sensibilização voltados aos servidores e policiais penais da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).
“Com as reflexões provocadas pela metodologia, os apenados e as apenadas são convidados a assumirem responsabilidades e refletirem sobre os danos causados a fim de que encontrem caminhos construtivos para a reparação”, afirmou a juíza Thielly Dias.
A magistrada destaca ainda o potencial do diálogo restaurativo para prevenir conflitos dentro das unidades. “A metodologia também destaca a relevância do diálogo e da empatia como ferramentas preventivas de conflitos no ambiente prisional”, completou.
Participação de indígenas e servidores do TJMS - A atividade em Ponta Porã contou com a presença dos servidores Camila Assad Catelan e Virgílio Napoleão Sabino, do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) do TJMS. Além de acompanhar a implementação do Plano Pena Justa, eles também participaram de círculos de construção de paz com a presença de pessoas indígenas privadas de liberdade nas unidades da comarca.
O envolvimento direto de representantes indígenas no processo restaurativo marca um avanço importante da aplicação da metodologia em contextos sociais diversos, respeitando especificidades culturais e promovendo a inclusão.
Projeto quer transformar presídios em referência de dignidade - Sob a coordenação-geral do desembargador José Ale Ahmad Netto e do coordenador-adjunto, desembargador Vilson Bertelli, o Nupemec tem ampliado o alcance da Justiça Restaurativa para além do ambiente escolar e comunitário, alcançando agora de forma integral o sistema prisional da comarca de Ponta Porã.
A diretora da Divisão de Assistência e Perícia da Agepen (DAP), Maria de Lourdes Delgado, reforça a importância do envolvimento de todos os profissionais da segurança prisional nesse processo. “A sensibilização dos profissionais é fundamental para um sistema prisional mais justo e para a construção de uma sociedade mais pacífica”, afirmou.
Com o apoio da direção-geral da Agepen e da DAP, a iniciativa busca tornar os presídios de Ponta Porã uma referência estadual. A expectativa é que o modelo sirva de base para ações semelhantes em outras unidades do Estado, contribuindo para a redução da reincidência criminal e o fortalecimento da dignidade humana no cumprimento de penas.