Redação | 28 de novembro de 2025 - 08h20

Projeto leva atendimento médico e exames a ribeirinhos do Pantanal

Mais de 460 pessoas foram beneficiadas por ação que alia ciência, vigilância e saúde em comunidades isoladas de Mato Grosso do Sul

SAÚDE PÚBLICA
Atendimento médico em embarcação durante expedição do Projeto NAVIO no Tramo Norte do Pantanal - (Foto: Arquivo SES)

Mais do que barcos cruzando o Rio Paraguai, o Projeto NAVIO – Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada – vem se consolidando como uma ponte entre a ciência, a saúde pública e a cidadania no Pantanal. Em sua segunda expedição pelo Tramo Norte, a iniciativa atendeu mais de 460 moradores de comunidades ribeirinhas entre março e abril de 2025, levando consultas médicas e odontológicas, exames laboratoriais, vacinação, ações educativas e vigilância ambiental a locais de difícil acesso.

Coordenado pela Fiocruz Minas e encabeçado pelo pesquisador Luiz Alcântara, o projeto é parte de um consórcio internacional que estuda a relação entre mudanças climáticas e doenças, e conta com apoio de instituições como o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos), OPAS/OMS e CNPq. A ação é desenvolvida em Mato Grosso do Sul em parceria com a SES (Secretaria de Estado de Saúde), a Marinha do Brasil e órgãos de pesquisa.

As comunidades atendidas incluem Barra de São Lourenço, Fazenda Amolar, Porto São Pedro, Paraguai Mirim, Domingos Ramos e áreas urbanas de Corumbá. Nessas localidades, foram realizados atendimentos clínicos, classificação de risco, acompanhamento de doenças crônicas, aplicação de vacinas e coletas laboratoriais, incluindo testagem rápida para doenças como sífilis, HIV, malária e arboviroses.

Casos de sífilis, infecções respiratórias, doenças dermatológicas e alterações metabólicas foram detectados e passaram a ser acompanhados pelas equipes. O uso de tecnologia foi essencial para agilizar diagnósticos, como destacou a SES, que utilizou uma plataforma de telediagnóstico e inteligência artificial para interpretar dados clínicos em tempo real.

A secretária adjunta de Saúde, Crhistinne Maymone, ressaltou o compromisso do projeto: “Levar saúde ao Pantanal é compreender a força e a sensibilidade desse território. O Projeto NAVIO mostra que ciência, cuidado e integração ambiental caminham juntas”.

Projeto NAVIO leva saúde, exames e educação a comunidades ribeirinhas do Pantanal

Além do atendimento direto à população, o projeto realiza coleta e análise de água, monitoramento de vetores, exames laboratoriais em animais domésticos e silvestres e vigilância ambiental. Os dados obtidos são fundamentais para antecipar surtos e traçar estratégias de prevenção.

“O Projeto NAVIO representa um modelo de vigilância que o mundo precisa conhecer. Aqui no Pantanal conseguimos agregar saúde em um dos biomas mais sensíveis às mudanças climáticas”, afirmou o pesquisador Luiz Alcântara, coordenador do CLIMADE, consórcio internacional de vigilância em saúde.

A plataforma REDCap foi utilizada para registrar e garantir a segurança dos dados coletados. A expedição também promoveu rodas de conversa sobre doenças, controle de vetores, qualidade da água, convívio com a fauna local e os impactos das mudanças climáticas na saúde humana.

A SES distribuiu filtros de barro às famílias ribeirinhas como resposta à identificação de contaminantes nas águas consumidas, reforçando o compromisso com a promoção da saúde e a prevenção de doenças.

A pescadora Maria Cristina Pereira, do Porto Morrinho, celebrou a chegada da equipe: “Aqui não temos médico. Quando vocês chegam é um alívio. Fui bem atendida, fiz exames, recebi explicações. Isso faz muita diferença para nossa comunidade”.

A dona de casa Deucilines Martins, de Forte Coimbra, compartilha do mesmo sentimento: “Sempre que o projeto chega, a gente sente que não está esquecido. É atendimento completo, do médico ao dentista”.

A Coordenadoria de Saúde Única da SES articula as ações em campo integrando diferentes áreas da secretaria, como odontologia, imunização, telessaúde, assistência farmacêutica e o Lacen (Laboratório Central), que executa análises de amostras coletadas nas expedições. O fluxo operacional é sustentado com apoio da Marinha, responsável pelo transporte e estrutura flutuante de atendimento, e pelos insumos fornecidos pelo Ministério da Saúde.

O Projeto NAVIO também integra a política de regionalização da saúde do Governo do Estado, garantindo presença contínua e estruturada em territórios isolados, muitas vezes esquecidos pelo poder público.

A próxima etapa da iniciativa já tem data marcada: começa no dia 1º de dezembro, com nova rota de atendimentos em áreas ribeirinhas de Mato Grosso do Sul.