China barra 69 mil toneladas de soja do Brasil por contaminação com pesticida proibido
Produção exportada por cinco unidades foi suspensa temporariamente após detecção de mistura irregular; MAPA convoca empresas e anuncia reforço nas inspeções préembarque
BARREIRA SANITÁRIAO governo chinês suspendeu temporariamente as exportações brasileiras de soja vindas de cinco unidades: duas da Cargill, uma da Louis Dreyfus, uma da CHS Agroindustrial (SP) e uma da 3Tentos Agroindustrial (RS). A medida, anunciada nesta sexta-feira (27), foi tomada após a detecção, pela General Administration of Customs of China (GACC), de resíduos de pesticida proibido – usado somente em sementes, e não permitido para exportação – misturados a um carregamento destinado à China. Ao todo foram barradas cerca de 69 mil toneladas de soja, embarcadas a bordo do navio Shine Ruby rumo a Pequim.
Infográfico detalha o bloqueio de 69 mil toneladas de soja brasileira pela China após a detecção de trigo com pesticida proibido em um carregamento.
Detalhes do caso - Segundo relatório da GACC, a carga foi classificada como “grave violação” às normas de segurança alimentar chinesas. O lote continha aproximadamente 10 toneladas de grãos de trigo tratados com agrotóxico, produto não autorizado para consumo humano ou animal nem para exportação à China, misturados à soja. Apesar de o incidente ter ocorrido em um único embarque, as consequências se estendem: apenas cinco unidades exportadoras foram suspensas, mas as demais plantas das mesmas empresas seguem operando normalmente.
As unidades afetadas estão localizadas nos estados de São Paulo (quatro plantas) e no Rio Grande do Sul (uma planta). Juntas, respondem por uma fração mínima. menos de 0,07%, do volume total esperado de exportações de soja em 2025.
Linha do tempo
Início de novembro de 2025: soja embarca no Brasil com destino à China.
26 de novembro de 2025: GACC identifica contaminação durante inspeção no porto chinês.
27 de novembro de 2025: China comunica a suspensão temporária das unidades envolvidas; Brasil informado via canais diplomáticos e comerciais.
Antecedentes: incidentes similares ocorreram em dezembro de 2024 e em janeiro de 2025, quando cinco estabelecimentos foram penalizados por exportarem soja com revestimento proibido por pesticidas. Na época, o Brasil apresentou medidas corretivas ao governo chinês em abril de 2025, que foram aceitas — até este novo episódio.
Impacto no agronegócio brasileiro - Apesar de o volume suspenso representar uma parcela ínfima da safra nacional prevista — abaixo de 0,1% — o episódio acende alertas para riscos reputacionais e econômicos. A China (maior compradora da soja brasileira) adquiriu cerca de 73% das exportações globais do país em 2024 (US$ 31,5 bilhões). Entre janeiro e outubro de 2025, o volume destinado à China representa aproximadamente 78% do total exportado, num valor estimado em R$ 31,6 bilhões. A projeção anual para 2025 supera os 100 milhões de toneladas exportadas.
Para as empresas afetadas, a alternativa será redirecionar a soja a outros mercados, como Europa e Ásia, embora com margens menores de lucro.
Especialistas alertam que novas suspensões, especialmente em escala ampliada, podem comprometer a credibilidade do agronegócio brasileiro e ampliar debates sobre o uso intensivo de agrotóxicos no país.
Reação do governo brasileiro - O MAPA confirmou a suspensão e convocou as empresas envolvidas para "análise imediata e investigação formal". O ministério ressaltou a importância da relação comercial com a China e anunciou o reforço nos controles de origem e nas inspeções préembarque. Apenas após a adoção de correções — cuja eficácia deverá ser atestada pelas autoridades chinesas, as unidades poderão ser reabilitadas.
Em nota oficial, o ministério classificou o impacto como pontual e afirmou que o Brasil mantém padrões “elevados de sanidade vegetal e segurança alimentar”.