27 de novembro de 2025 - 13h40

Haddad defende articulação com EUA para barrar lavagem de dinheiro via paraísos fiscais

Ministro destacou operação que bloqueou R$ 8 bilhões e pediu aprovação de lei contra devedores contumazes

COMBATE À FRAUDE
Ministro Fernando Haddad defende ações internacionais para combater lavagem de dinheiro e fortalecer o controle sobre fundos ilegais. - (Foto: Lula Marques/ Agência Braasil.)

No mesmo dia em que a Receita Federal deflagrou uma megaoperação contra fraudes no setor de combustíveis, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a cobrar uma articulação internacional para combater crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo paraísos fiscais. Segundo ele, é urgente estabelecer um canal direto com os Estados Unidos, especialmente com o estado de Delaware, usado por criminosos como rota de saída e retorno ilegal de recursos.

“A última operação foi de R$ 1,2 bilhão de envio para esses fundos em Delaware, e que voltam pra cá na forma de aplicação, como se fosse um investimento estrangeiro. Mas, na verdade, o dinheiro saiu daqui”, declarou o ministro ao falar com jornalistas nesta quinta-feira (27), na porta do Ministério da Fazenda.

Investigações miram grandes fundos e ocultação de patrimônio - Segundo Haddad, os esquemas investigados envolvem camadas complexas de ocultação de patrimônio por meio de fundos de investimento, muitos deles com apenas um cotista. A Receita Federal já identificou 17 fundos ligados a grupos suspeitos, com patrimônio líquido total de R$ 8 bilhões. A maioria são fundos fechados, o que dificulta a rastreabilidade e favorece práticas ilegais.

“Você precisa atuar também pelo andar de cima. É o andar de cima que irriga com bilhões as atividades criminosas”, disse o ministro.

As declarações ocorreram no mesmo dia em que foi deflagrada a Operação Poço de Lobato, ação conjunta da Receita Federal com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. O objetivo é desarticular um esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis. Os mandados judiciais foram cumpridos na Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

A operação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, realizada anteriormente no Maranhão, Piauí e Tocantins, e que resultou no fechamento de dezenas de postos de combustíveis. Na ocasião, o total bloqueado chegou a R$ 30 bilhões.

Haddad informou que foi feita uma representação formal ao Ministério Público Federal no Rio de Janeiro com 300 páginas detalhando a movimentação financeira e o funcionamento do esquema criminoso.

Acordo internacional e atuação da Interpol - O ministro revelou que ele e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, já discutiram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a necessidade de ampliar o diálogo com os Estados Unidos para rastrear e recuperar ativos ilegais no exterior. A Polícia Federal também deve acionar a Interpol para reforçar o cerco internacional aos envolvidos.

Além do combate aos crimes financeiros, Haddad reforçou o apelo para que a Câmara dos Deputados conclua a votação do projeto de lei que define o conceito de “devedor contumaz” — aquele que sonega impostos de forma deliberada e recorrente.

O texto já foi aprovado por unanimidade no Senado e aguarda análise dos deputados. Segundo o ministro, a medida é necessária para separar os contribuintes honestos dos que fazem da fraude tributária um modelo de negócio.

“É um apelo que eu deixo aqui, é um trabalho que fazemos há três anos. Aperfeiçoamos o texto, incluímos na lei uma série de benefícios para o bom contribuinte. Uma lei muito equilibrada. Se não fosse, não teria passado com unanimidade no Senado”, defendeu Haddad.

Ele destacou ainda que, se sancionada ainda este ano, a nova legislação fortalecerá o combate à sonegação a partir de 2026.