Da Redação | 27 de novembro de 2025 - 09h25

Dentistas podem prescrever Mounjaro? Entenda o que realmente está permitido

Após liberação da Anvisa para uso da tirzepatida na apneia do sono associada à obesidade, entidades detalham em quais situações a prescrição por dentistas é autorizada e onde há limites

SAÚDE
Canetas como Mounjaro devem ser compradas apenas com receita e em farmácias autorizadas, alerta a Anvisa - Foto: Mohammed Al Ali/Shutterstock

A liberação da Anvisa, em outubro, para o uso do Mounjaro (tirzepatida) no tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS) moderada e grave em pessoas com obesidade abriu um debate sobre quem está autorizado a prescrever o medicamento. Como a apneia também é acompanhada por profissionais da odontologia, surgiu a dúvida: dentistas podem receitar o remédio?

De acordo com o Conselho Federal de Odontologia (CFO), a resposta é sim — mas apenas em um cenário específico. A prescrição só é permitida quando a apneia está diretamente associada à obesidade, uma condição que exige acompanhamento médico. “O dentista pode prescrever, mas somente para pacientes com apneia associada à obesidade e sempre garantindo acompanhamento médico. A obesidade não é tratada pela odontologia”, explica a conselheira Bianca Zambiasi.

O CFO também esclarece que houve um ruído inicial que levou à interpretação de que qualquer caso de AOS já poderia receber a indicação de tirzepatida, algo que não está autorizado. O medicamento atua na obesidade e melhora a apneia como consequência; portanto, não há benefício para pacientes sem obesidade.

Riscos e limites

A recomendação do CFO é que o tratamento seja conduzido por uma equipe multidisciplinar, com endocrinologista, nutrólogo, otorrinolaringologista e demais especialistas. Se o paciente não estiver tratando a obesidade como doença de base, o dentista não deve manter a prescrição para não extrapolar sua área de atuação.

O conselho também reforça que o ideal é que o dentista tenha formação em sono. Caso a prescrição não siga as normas, o profissional pode sofrer sanções éticas, e denúncias podem ser feitas diretamente aos Conselhos Regionais de Odontologia.

Posição dos endocrinologistas

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) vê com preocupação a possibilidade de dentistas prescreverem medicamentos sistêmicos como a tirzepatida. A entidade lembra que, apesar do papel reconhecido da odontologia no tratamento da AOS — especialmente com dispositivos intraorais e procedimentos que envolvem avanço ósseo —, o principal fator de risco continua sendo a obesidade, uma doença que não faz parte do campo de atuação dos dentistas.

A Sbem também alerta para os efeitos colaterais do Mounjaro, que exigem acompanhamento especializado.

Mounjaro e apneia

A tirzepatida já era usada no tratamento de diabetes e obesidade e passou a ter venda controlada com prescrição em junho deste ano. Estudos recentes indicaram melhora consistente na apneia obstrutiva do sono, o que levou à ampliação da indicação na Anvisa.

No estudo clínico de fase 3 SURMOUNT-OSA, os participantes tinham cerca de 50 interrupções respiratórias por hora no início do tratamento. Após um ano, os resultados mostraram:

A melhora significativa reforça o papel do medicamento em casos de apneia associada à obesidade, mas não altera os limites de atuação profissional estabelecidos pelo CFO e pela Sbem.