Da Redação | 24 de novembro de 2025 - 21h00

Senado discute o futuro da celulose no leste de MS

Audiência nesta terça-feira (26) deve reunir prefeitos e representantes do governo para tratar dos impactos sociais e ambientais no Vale da Celulose

CELULOSE
Senado debate impactos da expansão da celulose no leste de MS, com pressão por infraestrutura, meio ambiente e serviços públicos. - (Foto: Estradas)

O Mato Grosso do Sul trocou a soja por celulose e agora quer entender os custos disso. Nesta terça-feira (26), a partir das 9h30, a Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado Federal realiza uma audiência pública para debater os impactos da indústria da celulose em 12 cidades do leste do estado. A reunião, que ocorre em Brasília, é presidida pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS) e contará com representantes de ministérios, prefeitos e especialistas no setor.

Batizado informalmente de Vale da Celulose, esse território atraiu mais de R$ 75 bilhões em investimentos privados e já representa 24% da produção brasileira do setor. A meta é ainda mais ambiciosa: atingir 11 milhões de toneladas por ano até 2028, com o estado ocupando o primeiro lugar na produção nacional. Atualmente, Mato Grosso do Sul é o segundo maior produtor, atrás apenas da Bahia.

Em 2025, a celulose superou a soja como principal item da balança comercial sul-mato-grossense, com exportações de US$ 1,44 bilhão. As gigantes Suzano, Arauco, Bracell e Eldorado lideram essa transformação, com operações em cidades como Ribas do Rio Pardo, Inocência e Três Lagoas.

O crescimento trouxe empregos e riqueza. Em Três Lagoas, o PIB per capita saltou de R$ 38,5 mil, em 2010, para R$ 104 mil em 2021. A geração de empregos mais que dobrou desde 2010 e os salários pagos pelo setor estão, em média, 43% acima da média estadual. O setor emprega atualmente 100 mil pessoas de forma direta ou indireta e prevê abrir outras 93 mil vagas até 2032.

Mas, enquanto uma cidade celebra novos caminhões na porta da fábrica, outra vê filas nos postos de saúde e escolas lotadas. A migração acelerada de trabalhadores pressiona serviços públicos, encarece aluguéis e obriga famílias de baixa renda a buscar moradia longe dos centros urbanos. Em Inocência, por exemplo, a população, que era de 8 mil pessoas, pode chegar a 30 mil com a chegada de novas operações.

O impacto também chega às estradas. O transporte de insumos já exigiu o tráfego de até 60 mil caminhões em algumas fases de obra. Estradas como a BR-262 e as estaduais MS-040, MS-395 e MS-320 estão sobrecarregadas. O setor cobra novos ramais ferroviários e mais investimentos em energia elétrica e abastecimento de água.

A natureza não passa ilesa. O plantio intensivo de eucalipto, base da celulose, tem causado redução da vazão de nascentes, segundo estudos da Embrapa. Ambientalistas falam em riscos de um "deserto verde", com perda de biodiversidade, surgimento de pragas como a vespa-da-galha e impactos duradouros nas bacias do Cerrado.

O senador Nelsinho Trad afirma que o momento exige um pacto. Ele defende planejamento urbano, educação profissional, compensações ambientais e políticas públicas que envolvam o governo federal. Segundo ele, o debate deve evitar que um dos maiores ciclos econômicos da história do estado resulte também em desigualdades profundas e colapsos silenciosos nos bastidores das cidades.

A audiência desta terça-feira será transmitida ao vivo nos canais oficiais do Senado e pretende abrir caminho para uma legislação que concilie desenvolvimento com qualidade de vida. A pauta, que já afeta 12 municípios, interessa também ao Brasil exportador, já que os Estados Unidos retiraram recentemente a sobretaxa de 10% sobre a celulose brasileira.