Morreu neste domingo (23), aos 81 anos, o ator alemão Udo Kier, conhecido por seu rosto inconfundível e por dar vida a personagens intensos e muitas vezes sombrios ao longo de mais de cinco décadas de carreira. A informação foi confirmada pelo marido do artista, Delbert McBride, à revista norte-americana Variety.

Udo Kier conquistou o público brasileiro principalmente por suas atuações em Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho, e no recente O Agente Secreto (2025), longa nacional ainda em cartaz e cotado ao Oscar 2026.

Nascido em Colônia, na Alemanha, em 14 de outubro de 1944, Udo Kier estreou no cinema em 1966, no curta Road to Saint Tropez. O papel era provocativo: um gigolô envolvido com uma mulher mais velha. Daí em diante, a carreira se consolidou com mais de 200 participações no cinema, entre produções independentes, filmes de terror cult e superproduções de Hollywood.

Ficou mundialmente conhecido pelas atuações em Carne para Frankenstein (1973) e Sangue para Drácula (1974), ambos dirigidos por Paul Morrissey e produzidos por Andy Warhol. Kier também colaborou com nomes de peso como Lars von Trier, Gus Van Sant e Rainer Werner Fassbinder.

“Depois do Frankenstein, estava tomando um vinho perto de onde Fellini filmava e pensei: ‘Se o Andy Warhol estiver certo, esses são meus 15 minutos de fama, e eles acabam agora’”, contou, em entrevista ao Estadão em 2019. Logo depois, aceitou viver Drácula em uma produção que exigiu perder nove quilos em uma semana. “Fechei a boca, vivi à base de água e alface. Mal conseguia me levantar da cadeira, mas fiz.”

A relação com o cinema brasileiro foi transformadora para o ator. No premiado Bacurau, viveu Michael, o líder de um grupo de estrangeiros que chega ao sertão nordestino com planos violentos contra a população local. A experiência, como relatou em 2019, mudou sua visão sobre o país.

“Quando se falava em Brasil, a gente pensava em carnaval. Mas Kleber Mendonça Filho me deu o roteiro e me levou para o sertão. Conheci uma realidade viva, cheia de humanidade. Foram três semanas no paraíso”, contou à época.

Em O Agente Secreto, em cartaz atualmente, Kier interpreta um personagem inicialmente identificado como nazista, mas que mais tarde revela-se um ex-prisioneiro de campo de concentração. O papel é um dos destaques do filme brasileiro que disputa indicações ao Oscar 2026.

Udo Kier também emprestou sua presença magnética a blockbusters como Blade: O Caçador de Vampiros (1998), Ace Ventura: Um Detetive Diferente (1994) e Armageddon (1998). No universo infantil, deu vida ao vilão Lorenzini em As Aventuras de Pinóquio (1996) e sua continuação em 1999.

Apesar da recorrência em papéis de vilões, sempre afirmou que seu maior prazer como ator era "estar em vários lugares e descobrir realidades diferentes".