André Carlos Zorzi | 23 de novembro de 2025 - 21h30

Estudante investigado por 'previsões' do Enem diz que sem sigilo, não houve má fé

Edcley Teixeira teve redes vasculhadas pela PF e afirma que questões anuladas foram coincidência com pré-testes feitos por universitários

ENEM 2025
Edcley Teixeira em material de divulgação antes do Enem; ele é investigado por possível uso de questões do pré-teste. - (Foto: Reprodução)

O estudante de Medicina Edcley Teixeira, pivô da polêmica que levou à anulação de três questões do Enem 2025, afirmou neste domingo (23) que não teve má fé ao divulgar perguntas idênticas às que caíram na prova. Segundo ele, as questões foram baseadas em experiências anteriores com um pré-teste aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mas não houve qualquer termo de sigilo que o impedisse de usá-las em sua mentoria.

"Não existia nenhum termo de compromisso, nenhum termo de sigilo. Não existia nem no edital e nem no processo de inscrição", afirmou Edcley em entrevista ao Fantástico, da TV Globo. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal no mesmo dia da exibição da reportagem.

Edcley é estudante do quarto ano de medicina e oferece mentorias pagas para alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio. Em uma live anterior à aplicação da prova, ele apresentou questões com grande semelhança às que foram efetivamente cobradas no Enem, o que gerou acusações de vazamento e ampla repercussão nas redes sociais.

O material, segundo ele, foi elaborado com base em informações recebidas de estudantes que participaram do Prêmio Capes de Talento Universitário — uma prova aplicada em universidades federais que também funciona como pré-teste para avaliar questões que podem vir a ser incluídas em edições futuras do Enem.

"As similaridades pontuais foram coincidência", defendeu-se o estudante. "Se eles nos avisassem: 'É um pré-teste, você tem que assinar o termo de sigilo, não pode divulgar para ninguém', com certeza ficaria mais seguro o processo."

Edcley também comentou peças publicitárias que usava nas redes sociais, como uma em que se apresentava como o “único monitor do País a realizar o pré-teste do Enem 2025”. Ele admitiu arrependimento: “Hoje eu considero infeliz. Era simplesmente para chamar atenção para o meu curso.”

O presidente do Inep, Manuel Palacios, afirmou que não há risco técnico à integridade do exame, mesmo diante da anulação das três questões. “Não há a menor chance de um item memorizado por um estudante que fez uma prova afete, de alguma maneira, a segurança do Enem. Não há risco algum”, declarou ao Fantástico.

Palacios, no entanto, não minimizou a gravidade do caso. “Há, aparentemente, um esforço concentrado para prejudicar o Enem. Precisamos saber o que está acontecendo.”

O Inep decidiu anular as questões envolvidas após a constatação de que estavam idênticas às apresentadas por Edcley em suas mentorias. O órgão ainda mantém investigação aberta em parceria com a Polícia Federal.

O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), também se manifestou e garantiu que o Enem 2025 não será cancelado. "Há uma preocupação muito grande para garantir a lisura do processo. Quero tranquilizar a todos que fizeram o exame: o Enem continua, o resultado final sairá em janeiro de 2026", assegurou.