'É no comércio e nos serviços que o crescimento se transforma em vida real'
Presidente da FCDL/MS fala sobre o papel do comércio no dia a dia da população e na economia do Estado
INÊS SANTIAGOA presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul (FCDL-MS), Inês Santiago, destacou a força do varejo como base da economia estadual. Com mais de 60% do PIB de MS vindo do comércio e serviços, ela defendeu políticas públicas voltadas ao setor e anunciou a criação da Frente Parlamentar do Varejo. A presidente também criticou propostas como a redução da jornada de trabalho e alertou sobre a falta de preparo para a reforma tributária, prevista para 2026. Confira a entrevista na íntegra:
A Crítica: O detalhamento do PIB de Mato Grosso do Sul mostra que o setor de serviços segue como o núcleo da economia, mesmo com o avanço da agropecuária. Como a senhora avalia esses dados?
Inês Santiago: Esses dados confirmam aquilo que vivenciamos todos os dias: o varejo é a espinha dorsal da economia sul-mato-grossense. Durante a pandemia, ficou evidente. O vírus não impediu o gado de engordar ou a lavoura de crescer, mas impediu o comércio de abrir. E quando o comércio fechou, o mundo parou. Campo Grande, por exemplo, tem 81% do seu PIB atrelado ao comércio e aos serviços. Isso mostra que o varejo não é só essencial, ele é vital. E os números do IBGE mostram que mais de 60% do PIB estadual vem do nosso setor. Estamos falando de tecnologia, transporte, comunicação, hotelaria, bares, restaurantes — tudo isso é serviço. São áreas que movimentam a economia todos os dias e fazem o estado crescer.
A Crítica: A senhora costuma afirmar que 'quando o varejo para, o mundo para junto'. Como isso se reflete na prática?
Inês Santiago: Essa frase é uma realidade. Basta lembrar da pandemia: quando o comércio parou, tudo travou. O varejo é o setor que está presente no cotidiano das pessoas. Ele gera empregos, movimenta renda, sustenta famílias. Se os lojistas não abrem suas portas, o impacto é imediato e profundo. O comércio de bens e serviços está em todos os bairros, em todas as cidades, e faz a roda da economia girar. Sem ele, o município para, a arrecadação cai, e o desemprego aumenta. O varejo é o elo entre o crescimento econômico e a vida real da população.
A Crítica: A criação da Frente Parlamentar do Varejo atende a que tipo de necessidade?
Inês Santiago: Ela vem preencher uma lacuna histórica. Mesmo sendo o setor que mais emprega e mais arrecada, o varejo nunca teve uma representação institucional forte para discutir suas pautas no parlamento estadual. Mato Grosso do Sul tem mais de 87% dos CNPJs ligados ao comércio e serviços. É quase todo o nosso tecido empresarial. Ainda assim, não tínhamos espaço para dialogar com o poder público de forma organizada. Agora temos. A Frente Parlamentar do Varejo foi criada com apoio do deputado Renato Câmara e reúne mais de 30 entidades. É uma conquista para o estado inteiro, não só para Campo Grande. O interior também faz parte e pode apresentar suas demandas.
A Crítica: A senhora afirmou que 'o comércio e os serviços representam a vida real das pessoas'. O que isso significa na prática?
Inês Santiago: Significa que o varejo está onde a vida acontece. O agronegócio é essencial para a balança comercial, mas ele opera de forma distante da vida urbana. Muitas vezes, o que se produz no campo é exportado sem deixar riqueza na cidade. Já o varejo está presente no bairro, na padaria do seu João, na farmácia da dona Maria, no salão de beleza, no mercado da esquina. É ali que a população trabalha, consome e vive. Por isso, defendemos uma legislação que estimule os municípios a comprar de fornecedores locais. É assim que fortalecemos nossas cidades e criamos mobilidade social de verdade. Isso não se faz com políticas assistencialistas, mas com geração de oportunidades e fortalecimento da economia local.
A Crítica: Quais pautas devem ser debatidas com prioridade na Frente Parlamentar?
Inês Santiago: Alguns temas já estão no radar: abertura do comércio em feriados, regulamentação da jornada de trabalho e a própria reforma tributária. Defendemos o projeto de lei, que trata da abertura em feriados sem a obrigatoriedade de negociação com sindicatos. Respeitamos o movimento sindical, mas a realidade atual exige mais liberdade para o empresário operar. Outro ponto importante é a proposta de jornada 4x3. Não concordamos com isso. Ninguém descansa com fome. O trabalhador precisa ganhar mais, não trabalhar menos. Para isso, é preciso enfrentar a carga tributária sobre folha de pagamento e consumo, que hoje retira mais da metade da renda de quem ganha salário mínimo. Isso sim afeta a qualidade de vida.
A Crítica: A reforma tributária está prevista para 2026. O setor está preparado para essa transição?
Inês Santiago: Não está. A reforma foi aprovada às pressas, sem que houvesse tempo para debater ou entender todos os impactos. Nem o setor público nem o privado sabem exatamente como aplicar o novo sistema. Pensando nisso, a FCDL-MS criou um projeto completo para ajudar os empresários. Vamos oferecer um diagnóstico personalizado do impacto da reforma de 2026 a 2033, acompanhando a empresa ano a ano. Também vamos orientar sobre fornecedores e crédito fiscal, especialmente para quem está no Simples Nacional, que não gera crédito e pode ficar em desvantagem. E o melhor: tudo isso será gratuito.
A Crítica: Qual é a sua mensagem final para os empresários e trabalhadores do varejo?
Inês Santiago: O varejo é um gigante. E agora, esse gigante tem voz. Estamos construindo um espaço de escuta, diálogo e ação concreta com a Frente Parlamentar. Vamos enfrentar os desafios com coragem e responsabilidade. Nosso compromisso é com o fortalecimento do comércio e serviços em todo o Mato Grosso do Sul. Estamos à disposição para lutar lado a lado com cada empresário e cada trabalhador que move essa engrenagem todos os dias.