Pedro Lima* | 21 de novembro de 2025 - 13h20

Plano de Trump propõe concessões à Rússia e gera alerta na Ucrânia e Europa

Rascunho apresentado a Zelenski prevê cessão de território, limitação militar e suspensão de sanções

INTERNACIONAL
Zelenski durante encontro com delegação americana: plano de paz de Trump causa desconforto em Kiev e na Europa - Foto: Reprodução Internet | TVI - IOL

Um esboço do plano de paz elaborado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia causou apreensão em Kiev e em aliados europeus. O documento, apresentado por uma delegação americana ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski nesta quinta-feira (21), inclui propostas vistas como amplamente favoráveis a Moscou.

Entre os pontos mais sensíveis estão a cessão formal de territórios do leste ucraniano, incluindo toda a região do Donbass, e a manutenção parcial do controle russo sobre a energia gerada pela usina nuclear de Zaporizhzhia. O plano também propõe limitações ao tamanho das Forças Armadas da Ucrânia e impede futuras ampliações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), enfraquecendo uma das principais demandas de segurança de Kiev.

Pressão sobre Kiev e impasse legal - A Constituição da Ucrânia proíbe expressamente qualquer cessão territorial, o que torna a proposta difícil de ser implementada sem profundas reformas legais e políticas. Além disso, o presidente Zelenski já reiterou diversas vezes que não aceitará acordos que legitimem a ocupação russa em regiões invadidas desde 2014.

Em resposta ao encontro, Zelenski afirmou, em mensagem publicada no Telegram, que a reunião foi “muito séria” e confirmou que recebeu a visão americana sobre um possível fim para o conflito. “A parte americana apresentou seus pontos. Reafirmamos que buscamos um verdadeiro acordo de paz, que não possa ser rompido por uma terceira invasão”, declarou.

A proposta também gerou reação imediata de diplomatas europeus, que pedem maior envolvimento dos aliados da Ucrânia antes que qualquer plano avance. Há o temor de que o plano seja interpretado como uma recompensa à agressão militar russa, minando os princípios de integridade territorial defendidos pela comunidade internacional desde o início da guerra.

Além das concessões territoriais e das limitações militares, o rascunho do plano prevê a suspensão de sanções impostas a Moscou e o possível retorno da Rússia ao antigo G8, grupo de países mais industrializados do mundo do qual foi excluída após a anexação da Crimeia, em 2014.

Zelenski quer garantias duradouras - Apesar da pressão, Zelenski adotou um tom cauteloso e afirmou que o governo ucraniano está disposto a discutir a proposta com seriedade, desde que os “princípios-chave” da soberania e dignidade nacional sejam respeitados. “Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido”, declarou.

O presidente da Ucrânia ainda espera um contato direto com Donald Trump nos próximos dias para discutir os termos do plano. Ele também fez questão de destacar que sua prioridade é assegurar que nenhum ator internacional possa responsabilizar a Ucrânia por falhar em iniciativas diplomáticas.

Mesmo diante da proposta, Zelenski afirmou que o governo russo não demonstra interesse genuíno pela paz e que a postura do Kremlin continua sendo de confronto. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a Ucrânia busca apoio internacional para recuperar seus territórios ocupados, enquanto a Rússia mantém posições estratégicas nas regiões leste e sul. A expectativa agora é que novas rodadas de discussões ocorram nos bastidores diplomáticos, mas o caminho para um acordo real segue incerto.