Redação E+ | 21 de novembro de 2025 - 07h45

Estudo alerta que ultraprocessados já substituem comida de verdade no mundo

Série de artigos da revista The Lancet aponta impacto dos ultraprocessados e cobra reação global de governos.

SAÚDE
Consumo de ultraprocessados está associado a um aumento no risco de doenças como diabetes, obesidade, problemas cardiovasculares e alguns tipos de câncer - Foto: Anaumenko/Adobe Stock

Uma série de artigos publicada nesta terça-feira (18) pela revista The Lancet mostra que os alimentos ultraprocessados estão substituindo a comida de verdade em vários países e já representam um dos maiores desafios de saúde pública. São produtos formulados com ingredientes industriais — como gorduras hidrogenadas, xaropes e aditivos — e desenvolvidos para ocupar o lugar dos alimentos in natura e das refeições caseiras.

O pesquisador brasileiro Carlos Monteiro, criador do conceito de ultraprocessados, afirma que o avanço desses produtos está mudando hábitos alimentares no mundo todo e elevando o risco de doenças crônicas. Pesquisadores apontam que corporações globais impulsionam essa mudança com marketing agressivo e lobby político, dificultando políticas que promovam uma alimentação saudável.

Os dados apresentados mostram um aumento contínuo no consumo: a Espanha e a China registraram alta nos últimos 30 anos; Brasil e México também seguem tendência similar; enquanto Estados Unidos e Reino Unido já têm mais da metade das calorias diárias vindas de ultraprocessados. A consequência, segundo o estudo, é uma dieta mais calórica, pobre nutricionalmente e associada a doenças como obesidade, diabetes, problemas cardíacos, depressão e até maior risco de morte precoce.

A pesquisadora Mathilde Touvier, da França, explica que os danos vão além do excesso de calorias. A combinação de aditivos, contaminantes formados no processamento e a perda da estrutura natural dos alimentos também contribuem para prejuízos à saúde.

A publicação defende ações coordenadas entre governos. Entre as recomendações estão limitar a publicidade — especialmente para crianças —, adotar regras mais claras de rotulagem, criar políticas específicas para reduzir o consumo e ampliar o acesso a alimentos frescos, sobretudo entre populações vulneráveis. Estudos anteriores já mostram que menos de 25% dos adultos brasileiros consomem frutas e hortaliças na quantidade mínima recomendada pela OMS.

Um dos artigos destaca ainda o poder econômico das grandes fabricantes, que faturam US$ 1,9 trilhão por ano. Para os pesquisadores, o setor resiste à regulação e influencia decisões políticas. Por isso, defendem uma resposta global capaz de proteger políticas públicas da interferência da indústria e fortalecer redes internacionais comprometidas com alimentação saudável.

No total, 43 pesquisadores de vários países assinam a série. Eles defendem a reconstrução dos sistemas alimentares com base em comida de verdade, cozinhas tradicionais e produção local.