Ricardo Eugenio | 19 de novembro de 2025 - 22h23

São Gabriel do Oeste vira referência na COP 30 com o projeto Luzes do Cerrado

Projeto de São Gabriel do Oeste, que reutiliza garrafas PET em decoração urbana, foi apresentado como exemplo de sustentabilidade na COP 30, em Belém

SUSTENTABILIDADE
Árvore de Natal de São Gabriel do Oeste, feita com garrafas PET recicladas, virou símbolo do projeto Luzes do Cerrado. - (Foto: Divulgação)

São Gabriel do Oeste, município localizado no norte de Mato Grosso do Sul, foi um dos destaques brasileiros na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), realizada nesta semana, em Belém. A cidade teve seu projeto Luzes do Cerrado selecionado para o documento “Territórios em Movimento”, que reúne 19 práticas inovadoras do país em sustentabilidade, desenvolvimento comunitário e enfrentamento das mudanças climáticas.

A iniciativa, criada em 2024, transformou mais de 50 mil garrafas PET em peças decorativas para eventos como Natal e Páscoa, envolvendo diretamente mais de 5 mil moradores e artesãos locais. Em apenas um ano de execução, o projeto produziu 300 estruturas reutilizáveis, instaladas em praças, prédios públicos e ruas da cidade.

Desenvolvido pela prefeitura em parceria com o Sebrae/MS, a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e o programa Cidade Empreendedora, o Luzes do Cerrado surgiu como uma resposta prática e criativa ao descarte de resíduos sólidos urbanos.

Uma das criações mais marcantes é a Árvore de Natal de São Gabriel do Oeste, montada com luminárias feitas de garrafas PET, que se tornou não apenas atração turística, mas também símbolo do engajamento comunitário e da arte coletiva como ferramenta de transformação social.

Durante o evento, o prefeito Leocir Montanha representou o município em Belém e celebrou o reconhecimento. “É uma alegria imensa ver São Gabriel do Oeste destacada em um dos maiores eventos do mundo sobre sustentabilidade”, afirmou. Segundo ele, o sucesso da ação se deve ao trabalho conjunto da gestão pública, de artesãos e da população.

A artesã Josiane Aparecida Fernandes Nery, uma das envolvidas no projeto desde o início, conta que aprendeu a confeccionar as peças e passou a ver a reciclagem com outros olhos. “Tenho orgulho de participar de algo que transforma a cidade e a vida das pessoas”, disse.

Mais do que reduzir o volume de resíduos, o projeto estimula a chamada economia circular: o que antes era descartado vira renda, arte e identidade cultural. Artesãos passaram a produzir itens por encomenda e as oficinas ganharam espaço fixo na agenda cultural do município.

O reconhecimento veio em um momento importante para o Mato Grosso do Sul. O estado trabalha para se tornar território carbono neutro até 2030, com ações que envolvem 70 dos seus 79 municípios. Esse avanço é guiado pelo Roadmap Território Carbono Neutro, metodologia criada em conjunto por Semadesc e Sebrae/MS, que avalia a maturidade dos municípios na adoção de práticas sustentáveis.

Durante a COP 30, realizada entre os dias 11 e 22 de novembro de 2025, o Sebrae Nacional apresentou três publicações voltadas ao desenvolvimento territorial resiliente e à adaptação climática. O diretor-técnico Bruno Quick destacou que o Brasil “pulsa empreendedorismo que transforma realidades” e que iniciativas como a de São Gabriel do Oeste demonstram o potencial de projetos locais com impacto global.


Jaime Verruck, secretário da Semadesc, representa Mato Grosso do Sul durante participação na COP 30.

Presente nos debates, o secretário Jaime Verruck (Semadesc) destacou o papel dos municípios nesse processo. Já Jeconias Rosendo da Silva Júnior, gerente de Desenvolvimento Territorial do Sebrae/MS, afirmou que a articulação entre Estado e municípios posiciona o Mato Grosso do Sul como exemplo de federalismo climático no país.

A participação de São Gabriel do Oeste na COP 30 reforça que ações simples, quando feitas com planejamento e engajamento, podem ganhar o mundo.