Daniela Amorim | 18 de novembro de 2025 - 20h45

IBGE troca servidores experientes por concursados recém-chegados e gera crise interna

Gestão Pochmann acumula cinco exonerações em dois dias na comunicação; sindicato denuncia "autoritarismo" e "caça às bruxas"

IBGE
A gestão de Marcio Pochmann tem sido marcada desde o início por diferentes embates com trabalhadores do instituto. - (Foto: Pedro Kirilos/Estadão)

A presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comandada por Marcio Pochmann, provocou uma nova crise interna ao promover, nesta terça-feira (18), mais uma troca de chefia na área de comunicação social — a quinta em apenas dois dias. As substituições têm um ponto em comum: os servidores exonerados foram substituídos por funcionários recém-aprovados no último concurso público, empossados apenas em julho de 2025 e ainda em estágio probatório.

A decisão da cúpula do instituto gerou forte reação do sindicato nacional da categoria, a Assibge-SN, que divulgou nota de repúdio denunciando "autoritarismo" por parte da gestão Pochmann. Para o sindicato, a substituição de servidores experientes por novatos “corrobora uma caça às bruxas” e ignora o conhecimento técnico acumulado dentro do órgão.

“A troca de gerentes experientes por servidores recém-contratados em processo de formação, e sujeitos ao estágio probatório, só corrobora a forma autoritária como vem sendo dirigido o órgão da magnitude do IBGE, com 89 anos de existência e tantos serviços prestados à sociedade brasileira”, afirmou a Assibge-SN no comunicado.

Um dos casos mais simbólicos da tensão ocorreu nesta terça, quando o supervisor de relacionamento com a imprensa, Marcelo Benedicto Ferreira, foi comunicado da exoneração por aplicativo de mensagens. Ele foi substituído por Rômulo de Carvalho Brito, servidor empossado em julho deste ano.

Na segunda-feira (17), outras quatro exonerações já haviam sido publicadas na intranet do órgão. A Coordenação-Geral de Comunicação Social, que cuida das redes sociais e da imagem institucional do IBGE, passou a ser comandada por Lorenzo Mello e Adriano Monteiro Marques de Souza, no lugar de Diana Souza e Ana Laura Azevedo.

A Gerência de Comunicação Social também foi reconfigurada: Marcos Filipe da Silva Sousa e Sheila Machado de Assis Ferreira assumiram os postos que pertenciam a Adriana Saraiva e Irene Cavaliere Gomes. Todos os novos indicados também entraram no instituto há apenas quatro meses.

Reação da presidência

Em resposta à reportagem da Broadcast, a direção do IBGE confirmou as trocas e defendeu as nomeações, alegando que os novos servidores têm “currículos de excelência” e experiência prévia em órgãos públicos e privados. A gestão classificou as mudanças como “necessárias” e ressaltou que os servidores exonerados permanecem lotados nas mesmas áreas, garantindo, segundo o instituto, a continuidade dos trabalhos.

A presidência ainda justificou que, após quase dez anos sem concursos públicos, o IBGE passa por um processo inédito de recomposição da força de trabalho. “Não há novidade na trajetória da política de pessoal do IBGE em nomear servidores, inclusive novos que se encontram em estágio probatório, para ocupar cargos de gestão”, afirmou a instituição.

Conflitos anteriores

As novas trocas aprofundam o desgaste entre a direção de Pochmann e os servidores de carreira do instituto. Em outubro, uma proposta de mudança no estatuto interno do IBGE levou dezenas de servidores a protestarem no Rio de Janeiro, acusando a presidência de tentar concentrar poderes e reduzir a participação técnica nas decisões estratégicas.

Mais de 70 coordenadores e gerentes ligados à Diretoria de Pesquisas — responsável pelas principais estatísticas econômicas do país — assinaram um documento de rejeição à proposta, entre eles nomes de referência como Rebeca Palis, Adriana Beringuy e Flávio Magheli.