Da Redação | 18 de novembro de 2025 - 16h20

Críticas sem base científica sobre o agro em livros escolares acendem alerta

Durante edição do programa Mestres no Agro, realizada na Expo Campo, associação expõe distorções no material didático e promove integração entre ciência, professores e editoras

EDUCAÇÃO
"Mostramos, por exemplo, o que é uma reserva legal, o uso adequado de resíduos e o que é plantio direto, sempre conectando à Base Nacional Comum Curricular (BNCC)", diz Paniago - (Fotos: Jamille Gomes)

“O Brasil deveria ser um deserto, se fosse verdade que onde o boi passa, causa desertificação.” Foi com esse exemplo direto que o especialista técnico da Associação De Olho no Material Escolar, Rodrigo Paniago, escancarou o tom alarmante com que o agronegócio vem sendo retratado nos livros escolares. A declaração foi dada nesta terça-feira (18), durante entrevista ao Giro Estadual de Notícias, ao comentar a participação na Expo Campo, no Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG).

A fala é parte de um diagnóstico preocupante: de acordo com um levantamento encomendado pela associação à Fundação Instituto de Administração (FIA), da Universidade de São Paulo, cerca de 40% do conteúdo de livros escolares menciona o agro – mas as referências negativas são quase três vezes mais frequentes do que as positivas. E mais: “97% dessas menções não têm nenhuma base científica. Não vêm da Embrapa, do Ibama, de órgão oficial algum”, alertou.

Associação revela distorções no material escolar sobre o agro e defende ciência como base para melhorar o ensino.

De olho no conteúdo e nas fontes - A Associação De Olho no Material Escolar surgiu durante a pandemia, quando muitos pais passaram a acompanhar de perto o conteúdo ensinado nas escolas. “Começamos a observar o que era dito sobre o agronegócio no material didático e ficamos muito preocupados”, explicou Paniago. A entidade se estruturou com apoio de mais de 300 associados em diversas regiões do país e hoje atua principalmente em três frentes: elaboração de pareceres técnicos, capacitação de professores e articulação direta com editoras de livros escolares.

O trabalho começa com a análise de trechos enviados por pais. “Às vezes o conteúdo só está desatualizado, mas em muitos casos está errado mesmo. Quando isso acontece, fazemos um parecer técnico com base científica e orientamos os pais a enviarem às escolas e, posteriormente, às editoras.”

Segundo Paniago, esse diálogo com as editoras já tem dado resultado. “O material vem mudando, devagarzinho, mas está mudando. E isso é importante para toda a sociedade.”

Um dos diferenciais do trabalho da associação é levar a ciência para dentro do debate educacional. “Não queremos que a nossa voz seja o contraponto às distorções. Queremos que a ciência seja”, afirmou. Por isso, nas reuniões com editoras, a entidade promove encontros com pesquisadores da Embrapa, USP, Unicamp, Ipea, entre outras instituições.

O especialista técnico da Associação De Olho no Material Escolar, Rodrigo Paniago

“A crítica ao agro é legítima. O problema é quando ela não é contextualizada nem baseada em fatos. O desmatamento, por exemplo, deve ser discutido sim, mas sem explicar por que ele ocorre, o que leva a decisões erradas e até injustas.”

Conhecimento aplicado na prática - Além da análise de materiais, a associação também promove ações educativas como o projeto “Vivenciando a Prática”, que leva crianças e adolescentes para conhecerem fazendas, agroindústrias, feiras e usinas. “Já levamos mais de 40 mil estudantes em todo o Brasil. A ideia é mostrar que o agro é muito mais do que o que está dentro da porteira. Envolve tecnologia, pesquisa, sustentabilidade e oportunidades em diversas áreas profissionais”, destacou.

O projeto não se limita aos alunos. Professores também participam das visitas, que são adaptadas conforme o ano escolar. “Mostramos, por exemplo, o que é uma reserva legal, o uso adequado de resíduos e o que é plantio direto, sempre conectando à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).”

Durante a Expo Campo, realizada com apoio da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (Semed) e do Sindicato Rural da capital, a associação promoveu uma edição especial do programa Mestres no Agro. A formação reuniu professores da rede municipal e contou com especialistas da Embrapa, do Ipea e da própria associação.

“Mostramos, por exemplo, o que é uma reserva legal, o uso adequado de resíduos e o que é plantio direto, sempre conectando à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).”

“O objetivo é capacitar professores com dados atualizados e fontes confiáveis. A ciência é o nosso eixo central”, afirmou. Entre os temas discutidos estiveram a revolução agroambiental brasileira desde os anos 1970, o conceito de cadeia produtiva e as inovações da agricultura digital 4.0.

O evento contou também com apoio do Senar, que levou 15 extensionistas para participarem do treinamento.

Paniago fez questão de destacar a Escola Agrícola Barão do Rio Branco, no distrito de Campo Grande, como um exemplo de sucesso. “É uma escola limpa, organizada, onde os alunos têm carinho pelos professores e são protagonistas de seus projetos. Eles produzem peixes, ovos, suínos, hortaliças, doces, mel e ainda vendem esses produtos, após avaliarem a viabilidade econômica de cada item”, relatou.

Para ele, esse tipo de vivência é o caminho para formar cidadãos mais conscientes e conectados com o mundo real. “A educação precisa preparar para a vida e para o trabalho. E o agro é uma das maiores fontes de oportunidades no Brasil.”

Contato e participação Pais e educadores que quiserem contribuir com a associação ou encaminhar dúvidas sobre conteúdos escolares podem acessar o site oficial (deolhonomaterialescolar.com.br) ou o Instagram oficial (@deolhonomaterialescolar).