Verônica Daminelli | 17 de novembro de 2025 - 15h05

ONG critica asilo a ex-primeira-dama do Peru e diz que FAB virou 'piloto de fuga'

Transparência Internacional condena operação brasileira que trouxe Nadine Heredia ao país após sua condenação por corrupção

POLÍTICA EXTERNA
ONG critica ação da FAB para trazer Nadine Heredia ao Brasil e chama operação de 'piloto de fuga'. - Foto: Luis Iparraguirre/Presidência Do Peru

A Transparência Internacional criticou duramente o uso de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) na operação que trouxe ao Brasil a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada por corrupção e lavagem de dinheiro. Em nota publicada nesta segunda-feira (17), a ONG afirmou que a FAB atuou como “piloto de fuga” e classificou o episódio como “um dos mais infames da história latino-americana”.

A operação custou R$ 345 mil aos cofres públicos e foi realizada a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após o governo brasileiro conceder asilo humanitário a Heredia. Segundo o Planalto, a autorização se deu por razões humanitárias, com base no tratamento de câncer enfrentado por ela. A justificativa foi baseada na Convenção de Caracas de 1954, que regula o asilo diplomático na América Latina.

“FAB se prestando ao papel de piloto de fuga da primeira-dama peruana condenada por corrupção, a mando do próprio chanceler Mauro Vieira e do presidente Lula, será lembrado como um dos episódios mais infames da história latino-americana. Desonra que o povo brasileiro não merecia”, afirmou a entidade no X (antigo Twitter).

Operação custou R$ 345 mil e foi solicitada pelo presidente Lula; ONG fala em 'piloto de fuga'

Rota e custos da operação - Os detalhes da missão foram revelados por meio de um requerimento de informação feito pelo deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) ao Ministério da Defesa. A aeronave envolvida na operação foi um jato E-135 Shuttle (VC-99C), que partiu de Brasília com destino a Lima, no Peru, realizando escalas técnicas.

Foram gastos R$ 318 mil em despesas logísticas, R$ 19 mil em taxas aeroportuárias e R$ 7,5 mil em diárias para a tripulação. Nadine Heredia embarcou com o filho mais novo e foi levada diretamente a Brasília.

Antes do transporte, ela havia buscado refúgio na Embaixada do Brasil em Lima, logo após ser condenada pela Justiça peruana. O salvo-conduto para sua saída foi concedido pelo governo peruano após coordenação diplomática com Brasília.

Nadine Heredia e seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados pela Justiça peruana por envolvimento em um esquema de corrupção ligado à empreiteira brasileira Odebrecht (atualmente Novonor), incluindo financiamento ilegal de campanhas eleitorais. O Ministério Público do Peru classificou os crimes como de natureza comum, e não política — o que gerou críticas ao asilo concedido pelo Brasil.

No entanto, a defesa de Heredia alegou que há motivações políticas no processo, traçando paralelos com a Operação Lava Jato no Brasil, que também envolveu delações da empreiteira em vários países latino-americanos. A solicitação de asilo foi baseada no entendimento de que ela estaria sob risco de perseguição política.

Repercussão política - A operação provocou críticas dentro e fora do país. Parlamentares da oposição questionaram o uso de recursos públicos e o envolvimento direto do presidente Lula na decisão. “É inaceitável que o Brasil use recursos da FAB para proteger condenados por corrupção de outros países”, disse Van Hattem.

Por outro lado, o Itamaraty afirmou que o Brasil cumpriu obrigações legais previstas na Convenção de Caracas, e que a decisão de conceder asilo cabe exclusivamente ao Estado solicitante. “Cabe ao Brasil avaliar a urgência e necessidade do asilo; ao Peru, a concessão do salvo-conduto”, afirmou nota da chancelaria.