Carlos Guilherme | 17 de novembro de 2025 - 10h30

'É possível fazer um SUS com qualidade de hospital particular'

A presidente do Hospital de Câncer Alfredo Abrão destaca crescimento nos atendimentos, investimentos em tecnologia e infraestrutura, além do papel essencial da prevenção

SUELI TELLES
Sueli Lopes Telles, presidente do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande - (Foto: A Crítica)

Em entrevista, Sueli Lopes Telles, presidente do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande, ressaltou que a instituição filantrópica atende 72% dos pacientes oncológicos do estado, com cerca de 600 atendimentos diários.

 Ela detalhou os avanços na estrutura física e tecnológica, como a aquisição de um novo acelerador linear, e defendeu o fortalecimento da cultura da prevenção, especialmente entre os homens. Telles também reforçou a importância da colaboração da sociedade para a manutenção dos serviços de qualidade do hospital, que atua de forma gratuita, com padrão equiparado a unidades privadas. Confira a entrevista:

A Crítica: Sueli, como é estar à frente do Hospital do Câncer Alfredo Abrão em um momento tão simbólico como os meses de outubro e novembro, dedicados à conscientização sobre o câncer?

Sueli: É uma honra estar aqui e poder falar sobre o nosso trabalho. O Hospital do Câncer Alfredo Abrão é uma instituição privada, porém filantrópica e sem fins lucrativos. Toda nossa diretoria e conselho curador são voluntários, ninguém recebe salário. Estamos lá pela missão de fazer o bem. E vale lembrar: o hospital funciona o ano inteiro, não só em campanhas como Outubro Rosa ou Novembro Azul.

A Crítica: A senhora mencionou o grande volume de atendimentos. Qual é a atual capacidade do hospital?

Sueli: Atendemos cerca de 600 pessoas por dia. E não estamos falando de internações ou cirurgias, mas de consultas, exames, quimioterapia, radioterapia, odontologia, fisioterapia, atendimento psicológico e assistência social. Atendemos 72% dos pacientes oncológicos do Mato Grosso do Sul. De cada 10 pacientes atendidos pelo SUS no estado, 7 são tratados no nosso hospital.

A Crítica: Como foi o desempenho das campanhas Outubro Rosa e Novembro Azul este ano?

Sueli: O Outubro Rosa foi um sucesso. Previmos 1.760 exames e realizamos mais de 2 mil. Foram 158 exames com alterações, o que comprova a importância do diagnóstico precoce. Já o Novembro Azul tem crescido: nos primeiros sete dias, fizemos mais de 500 exames de PSA. Ainda assim, as mulheres continuam sendo mais participativas. Precisamos quebrar o tabu de que ‘homem não chora’. Homem precisa se cuidar, sim.

A Crítica: Em relação ao atendimento, há muitos pacientes chegando já em estágio avançado da doença?

Sueli: Infelizmente, sim. Recebemos muitos casos em estágio 4. Por isso reforçamos sempre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Hoje o hospital está de portas abertas o ano inteiro para isso e o atendimento é totalmente gratuito.

A Crítica: E como tem sido a gestão da senhora desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2024?

Sueli: Em 2024 realizamos 224.729 procedimentos, com mais de 64 mil consultas. Hoje, fazemos mais de 17 mil atendimentos por mês. Recebemos pacientes de todo o estado. Só na madrugada chegam 30 vans e ônibus trazendo pacientes para tratamento.

A Crítica: Houve investimentos em infraestrutura nesse período?

Sueli: Sim. Fizemos um empréstimo de R$ 1,2 milhão para concluir um andar com 32 novos leitos modernos e humanizados. O Governo do Estado também investiu R$ 1,25 milhão em mais 32 leitos no quarto andar. Agora, temos 64 leitos com padrão de hospital particular — tudo dentro do SUS.

A Crítica: Há parcerias importantes em andamento?

Sueli: Firmamos parcerias com os hospitais A.C. Camargo e Sírio-Libanês de São Paulo. Agora, nossos pacientes passam por triagem para participarem de pesquisas clínicas. É um avanço no tratamento oncológico aqui no estado.”

A Crítica: O hospital adquiriu recentemente um novo acelerador linear. O que isso representa?

Sueli: É um grande passo. Esse aparelho faz a radioterapia com altíssima precisão. O atual atinge cerca de 1 cm de tecido saudável; o novo atinge uma espessura de um grafite 0,3 mm, com muito mais precisão. Ele reduz o número de sessões de 30 para até 10. Está sendo fabricado na Inglaterra e deve chegar em fevereiro. Estamos construindo um novo bunker para instalá-lo sem interromper o funcionamento do atual.

A Crítica: Quais os próximos investimentos em estrutura física?

Sueli: Lançamos o ‘andar da família Agro’, em parceria com produtores rurais e o Sicredi. Cada família agro está doando R$ 50 mil. O Sicredi vai investir R$ 1,25 milhão para concluir o segundo andar com 20 leitos de UTI. O Agro também anunciou mais um novo andar. O Governo do Estado vai investir R$ 2,5 milhões no novo centro cirúrgico, com mais oito salas. E os deputados estaduais aprovaram emendas para a construção do andar da pediatria. A previsão é concluir o prédio inteiro até o próximo ano.

A Crítica: Com tantos avanços, o hospital ainda precisa de ajuda da sociedade?

Sueli: Com certeza. O SUS é defasado. Por exemplo, o SUS paga R$ 10 por uma consulta e nós pagamos R$ 60. E hoje, toda ajuda dos sindicatos rurais vai para Barretos. Barretos é excelente, mas atendemos 72% da oncologia do estado. Queremos pedir que uma fatia dessas doações, nem que seja 20% ou 30%, venha para o nosso hospital também. Quem quiser ajudar pode ligar para 0800-663-13. Toda ajuda é bem-vinda, até R$ 10 já faz diferença.