Redação | 17 de novembro de 2025 - 14h55

Justiça de Bangladesh condena ex-premiê Sheikh Hasina à morte por crimes contra a humanidade

Veredicto ocorre após levante popular que derrubou seu governo; julgamento foi feito à revelia, sob forte tensão no país

CRISE INTERNACIONAL
Julgamento de Sheikh Hasina provoca onda de protestos em Bangladesh; ex-premiê foi condenada à morte - Foto: Indranil MUKHERJEE / AFP

A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, de 78 anos, foi condenada à pena de morte nesta segunda-feira (17) por crimes contra a humanidade relacionados ao levante popular que tomou o país em 2024. A decisão foi anunciada pelo juiz Golam Mortuza Mozumder, em tribunal especial na capital, Daca, após considerar que estavam “reunidos todos os elementos constitutivos de um crime contra a humanidade”.

Hasina, que comandou o país por 15 anos, foi julgada à revelia, pois está exilada na Índia desde agosto do ano passado, quando foi deposta após a repressão violenta a protestos estudantis. Segundo a ONU, até 1,4 mil pessoas foram mortas durante a repressão, que durou de julho a agosto de 2024. Relatórios oficiais do governo interino reconhecem mais de 800 mortes e cerca de 14 mil feridos.

O ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan, também foi condenado à morte no mesmo julgamento. Já um ex-chefe de polícia, que virou testemunha do Estado e confessou participação nos crimes, foi sentenciado a cinco anos de prisão.

Julgamento foi transmitido ao vivo sob forte esquema de segurança - A sessão judicial foi transmitida ao vivo na TV estatal. Com receio de protestos violentos, o governo interino reforçou a segurança em Daca e em outras cidades com tropas da polícia, guardas de fronteira paramilitares e até solicitação ao Exército para proteção ao entorno do Supremo Tribunal.

Durante a leitura da sentença, explosões de bombas caseiras foram registradas em vários pontos da capital. No domingo (16), uma delas atingiu a residência de um assessor equivalente a ministro de Estado.

A escalada da violência fez com que o chefe de polícia de Daca, Sheikh Mohammad Sazzat Ali, autorizasse o uso de força letal contra qualquer pessoa que tente lançar bombas caseiras ou incendiar veículos. Nos últimos dias, cerca de 50 ataques incendiários e dezenas de explosões foram registradas, resultando em pelo menos duas mortes.

O partido de Hasina, a Liga Awami, declarou a sentença como “ilegítima” e convocou uma paralisação nacional. A legenda foi proibida de atuar no país após o novo governo assumir o poder em agosto.

Hasina, por meio de mensagem de áudio divulgada no domingo, pediu que seus apoiadores “não fiquem nervosos com o veredicto” e continuem mobilizados. A defesa da ex-primeira-ministra também questiona a legalidade do julgamento à revelia e da nomeação de um defensor público sem seu consentimento.

Nobel da Paz lidera governo interino e promete eleições sem oposição - Após a queda de Hasina, o Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus assumiu o governo interino em 8 de agosto de 2024. Desde então, prometeu punir os responsáveis pela repressão ao levante popular e afirmou que o partido de Hasina não terá direito de disputar as próximas eleições, previstas para fevereiro de 2026.

Yunus, conhecido internacionalmente por seu trabalho no microcrédito, disse que Bangladesh está em reconstrução e que busca estabilidade institucional. No entanto, observadores internacionais apontam sinais de instabilidade política, censura e repressão a opositores mesmo sob a nova administração.