Justiça do Reino Unido responsabiliza BHP por tragédia de Mariana
Decisão histórica da Alta Corte britânica pode gerar até R$ 250 bilhões em compensações a vítimas da tragédia de 2015
NACIONALA mineradora BHP Billiton foi considerada responsável pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015, segundo decisão da Alta Corte da Justiça Britânica. A sentença, considerada histórica, abre caminho para que cerca de 640 mil pessoas e 31 municípios brasileiros possam buscar indenizações estimadas em até R$ 250 bilhões, conforme cálculo do escritório de advocacia Pogust Goodhead (PG), que representa os atingidos no processo.
A tragédia deixou 19 mortos e milhares de pessoas impactadas direta e indiretamente por danos ambientais, sociais e econômicos ao longo da bacia do rio Doce. A barragem pertencia à Samarco, empresa controlada em partes iguais pela brasileira Vale e pela australiana BHP.
Apesar da condenação da mineradora nesta etapa, a definição dos valores individuais e a análise dos danos ocorrerão apenas nas próximas fases do processo, entre 2028 e 2029, segundo informou a BHP. Ainda assim, a decisão representa um passo crucial para as vítimas, que agora têm legitimidade reconhecida para buscar reparação na justiça britânica.
De acordo com a sentença, as vítimas poderão apresentar suas ações até, no mínimo, setembro de 2029, com possibilidade de prazos ainda mais longos, dependendo das circunstâncias individuais de cada autor. A juíza também reconheceu que os 31 municípios afetados têm direito de prosseguir com ações judiciais na Inglaterra.
A empresa já anunciou que pretende recorrer da decisão.
A BHP sustenta que a ação coletiva em curso no Reino Unido seria “duplicada” em relação aos acordos já firmados no Brasil, principalmente o firmado com autoridades brasileiras em 2024 e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O entendimento da Alta Corte britânica, no entanto, é de que há espaço para que vítimas não contempladas ou com indenizações insuficientes busquem reparação internacional.
Se confirmada a indenização total estimada de 36 bilhões de libras (cerca de R$ 250 bilhões), essa poderá ser uma das maiores condenações judiciais da história por danos ambientais.
A BHP tentou, sem sucesso, incluir a Vale no processo britânico. Após o fracasso da tentativa, as duas empresas firmaram um acordo para dividir igualmente os custos de eventual condenação.
No Brasil, o acordo entre as mineradoras, o governo federal, os estados e os municípios prevê um total de R$ 170 bilhões para reparação de danos. Desse montante:
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R$ 100 bilhões serão pagos ao longo de 20 anos, em dinheiro novo, para custear programas sociais, ambientais e econômicos.
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R$ 38 bilhões já foram investidos em medidas de compensação e reparação.
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R$ 32 bilhões serão executados diretamente pela Samarco, com foco em indenizações, reassentamentos e recuperação ambiental.
Mesmo com os acordos firmados, até hoje nenhum responsável foi condenado criminalmente no Brasil. A Justiça Federal chegou a absolver a Vale, a Samarco e a BHP das acusações de crimes ambientais, mas o Ministério Público Federal recorreu, e o processo segue em tramitação no Tribunal Regional Federal da 6ª Região, com sede em Belo Horizonte.
A juíza britânica identificou provas de que a barragem de Fundão apresentava instabilidade, e que havia risco real de liquefação e ruptura — o que, segundo a decisão, poderia ter sido evitado pelas empresas. Essas conclusões fortalecem o argumento dos autores de que houve negligência técnica e administrativa na condução das atividades da Samarco.