Sindicatos defendem Taís Araújo após críticas de presidente do Sated-RJ
Entidades rebateram falas de Hugo Gross e afirmaram que artistas negros ainda enfrentam barreiras e desigualdades no audiovisual brasileiro.
CONSCIÊNCIA NEGRASete sindicatos de artistas e técnicos divulgaram, nesta quinta-feira (13), uma nota conjunta em apoio a Taís Araújo. O posicionamento ocorre após declarações do ator Hugo Gross, presidente do Sated-RJ, que criticou a atriz por ter acionado o compliance da Globo em razão das mudanças feitas por Manuela Dias em sua personagem na adaptação de Vale Tudo.
A reportagem procurou Taís Araújo e a Globo, mas não obteve retorno até a publicação. O espaço segue aberto.
Em entrevista ao portal Metrópoles, Hugo Gross minimizou a denúncia da atriz e afirmou que reclamações sobre falta de oportunidades para profissionais negros “já passaram”. Ele declarou:
“Está reclamando de negros, porque não teve papel para negro. Hoje, qualquer coisa, é que o negro não teve chance (...) Ninguém está pensando mais nisso, isso já passou milhões de anos atrás.”
A fala provocou reação imediata de sindicatos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba e do Sindicato dos Profissionais da Dança do Rio de Janeiro (SPDRJ). As entidades afirmaram que não concordam com o posicionamento do dirigente e destacaram que artistas negros ainda enfrentam desigualdades estruturais no mercado.
Segundo o comunicado, “artistas e técnicos negros continuam a enfrentar barreiras significativas de acesso, visibilidade e reconhecimento profissional”, além de receberem salários inferiores aos de profissionais não negros. As entidades criticaram o fato de Gross utilizar “um espaço público e de visibilidade para direcionar críticas a artistas, em vez de cobrar responsabilidade das estruturas empresariais”.
Entenda o caso - A polêmica começou durante a exibição da nova versão de Vale Tudo. Taís Araújo, que interpretou Raquel, disse em entrevista à revista Quem que se decepcionou ao ver a protagonista voltar a vender sanduíches na praia—trajetória diferente da versão original da novela.
“Quando isso não aconteceu, confesso que fiquei triste”, afirmou Taís, ao comentar a falta de ascensão social da personagem.
A partir disso, segundo o Metrópoles, a atriz levou sua insatisfação ao setor de compliance da Globo. O portal então entrevistou Hugo Gross, que voltou a minimizar denúncias de racismo e atacou Taís, afirmando que “o ator não tem sexo, não tem cor” e que falta “humildade”.
Veja trechos do posicionamento dos sindicatos
As entidades ressaltaram:
que não compactuam com discursos que negam o racismo estrutural;
que o papel de um sindicato é proteger trabalhadores, e não desqualificá-los;
que é preciso cobrar das empresas e produtoras práticas mais inclusivas;
e que seguirão atuando para promover espaços de trabalho “mais plurais, éticos e inclusivos”.
A nota conclui: “Racismo é crime.”