Imigração e segurança ganham protagonismo em campanha presidencial no Chile
Candidatos revêem fronteiras, uso da força e sigilo bancário diante do avanço da criminalidade no país
ELEIÇÕES CHILENAS 2025A disputa presidencial no Chile, marcada para este domingo (16), tem entre seus eixos principais as políticas de segurança pública e imigração — temas que ganharam urgência diante da percepção crescente de criminalidade e do medo social. Candidatos como Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário) e José Antonio Kast (Partido Republicano) apostam em discursos mais duros. Kaiser defendeu o uso da força contra delinquentes e o envio de imigrantes ilegais para El Salvador, enquanto Kast prometeu um “escudo fronteiriço” e maior poder de fogo no combate à criminalidade. Já a Jeannette Jara (Partido Comunista) propôs a suspensão do sigilo bancário para investigar organizações criminosas.
As pesquisas evidenciam o clima entre os chilenos. De acordo com o estudo Atlas Intel, divulgado em outubro, 53,1% da população apontam a insegurança e o narcotráfico como os principais problemas do país. O relatório da Fundação Paz Cidadã, de setembro, mostra que 24,3% dos chilenos relatam “alto temor” à criminalidade — índice acima de 20,5%, registrado desde 2022.
Professora e doutora em Estudos LatinoAmericanos pela Universidade de Chile, Alejandra Bottinelli alerta que a criminalidade não pode ser atribuída integralmente à imigração. “É verdade que em certos tipos de delitos vemos uma maior participação de imigrantes, mas atribuir o crescimento da criminalidade a toda uma população imigrante, ilegal ou não, é uma visão distorcida. Inviabiliza o fato de que a maioria deles são pessoas trabalhadoras, honestas”, afirmou. Estimase que cerca de 337 mil imigrantes vivam em situação irregular no Chile.
Embora o Chile seja considerado um dos países mais seguros da América do Sul — atrás apenas da Argentina e do Uruguai no Global Peace Index —, alguns crimes têm apresentado crescimento. Segundo relatório do Ministério Público chileno, a taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes cresceu de 4,2 em 2016 para 6 em 2024 — aumento de 42,8%. No que se refere aos imputados, embora a maioria ainda seja chilena, atualmente 1 em cada 5 são estrangeiros, sobretudo venezuelanos e colombianos.
Sequestros com objetivo de extorsão cresceram 27,8% entre 2022 e 2024, segundo o Ministério Público. Também chama atenção o roubo de celulares: a Polícia de Investigações do Chile (PDI) estima que cerca de 2mil aparelhos são furtados por dia — algo em torno de 500mil por ano.
CarolinaValenzuela, 44, foi vítima de um desses crimes em Santiago em junho enquanto aguardava o ônibus. “Sempre houve delitos aqui, mas agora eles estão mais violentos. Falta uma polícia mais efetiva nas ruas”, desabafou. Ela afirma que pensa em se mudar novamente devido à sensação de insegurança. “Os candidatos abordam o tema de forma parecida. Alguns são mais extremos, é verdade, mas não vai mudar muita coisa”, completou.
Voto estrangeiro e discurso de medo - Entre os eleitores chilenos, cerca de 885.940 estrangeiros estão habilitados a votar, segundo o Servicio Electoral de Chile (Servel), sendo 237.827 venezuelanos. Estimativas mostram que imigrantes de países vizinhos representam 38% dos que vivem no Chile, seguidos por peruanos (13,6%) e colombianos (10,9%).
O barista venezuelano Anthony Cedeño, que vive em Santiago há sete anos, relatou episódios de xenofobia e afirma que, embora se sinta dividido, acredita que muitos compatriotas votarão na direita. “Os venezuelanos acreditam que ela sempre vai zelar pelo crescimento econômico e pela segurança, o que é importantíssimo para nós”, observou.
Para Bottinelli, o uso do medo como instrumento eleitoral se tornou central. “Quando discursam, os dois candidatos acabam representando a raiva dos eleitores que se sentem abandonados politicamente. A cultura do medo se tornou o eixo dessas campanhas”, afirmou.