Redação | 14 de novembro de 2025 - 11h50

Imigração e segurança ganham protagonismo em campanha presidencial no Chile

Candidatos revêem fronteiras, uso da força e sigilo bancário diante do avanço da criminalidade no país

ELEIÇÕES CHILENAS 2025
O candidato presidencial chileno Jose Antonio Kast discursa em um comício na cidade de Concepcion, no Chile - (Foto: Guillermo Salgado/AFP)

A disputa presidencial no Chile, marcada para este domingo (16), tem entre seus eixos principais as políticas de segurança pública e imigração — temas que ganharam urgência diante da percepção crescente de criminalidade e do medo social. Candidatos como Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário) e José Antonio Kast (Partido Republicano) apostam em discursos mais duros. Kaiser defendeu o uso da força contra delinquentes e o envio de imigrantes ilegais para El Salvador, enquanto Kast prometeu um “escudo fronteiriço” e maior poder de fogo no combate à criminalidade. Já a Jeannette Jara (Partido Comunista) propôs a suspensão do sigilo bancário para investigar organizações criminosas.

As pesquisas evidenciam o clima entre os chilenos. De acordo com o estudo Atlas Intel, divulgado em outubro, 53,1% da população apontam a insegurança e o narcotráfico como os principais problemas do país. O relatório da Fundação Paz Cidadã, de setembro, mostra que 24,3% dos chilenos relatam “alto temor” à criminalidade — índice acima de 20,5%, registrado desde 2022.

Professora e doutora em Estudos LatinoAmericanos pela Universidade de Chile, Alejandra Bottinelli alerta que a criminalidade não pode ser atribuída integralmente à imigração. “É verdade que em certos tipos de delitos vemos uma maior participação de imigrantes, mas atribuir o crescimento da criminalidade a toda uma população imigrante, ilegal ou não, é uma visão distorcida. Inviabiliza o fato de que a maioria deles são pessoas trabalhadoras, honestas”, afirmou. Estimase que cerca de 337 mil imigrantes vivam em situação irregular no Chile.

Embora o Chile seja considerado um dos países mais seguros da América do Sul — atrás apenas da Argentina e do Uruguai no Global Peace Index —, alguns crimes têm apresentado crescimento. Segundo relatório do Ministério Público chileno, a taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes cresceu de 4,2 em 2016 para 6 em 2024 — aumento de 42,8%. No que se refere aos imputados, embora a maioria ainda seja chilena, atualmente 1 em cada 5 são estrangeiros, sobretudo venezuelanos e colombianos.

Sequestros com objetivo de extorsão cresceram 27,8% entre 2022 e 2024, segundo o Ministério Público. Também chama atenção o roubo de celulares: a Polícia de Investigações do Chile (PDI) estima que cerca de 2mil aparelhos são furtados por dia — algo em torno de 500mil por ano.

CarolinaValenzuela, 44, foi vítima de um desses crimes em Santiago em junho enquanto aguardava o ônibus. “Sempre houve delitos aqui, mas agora eles estão mais violentos. Falta uma polícia mais efetiva nas ruas”, desabafou. Ela afirma que pensa em se mudar novamente devido à sensação de insegurança. “Os candidatos abordam o tema de forma parecida. Alguns são mais extremos, é verdade, mas não vai mudar muita coisa”, completou.

Voto estrangeiro e discurso de medo - Entre os eleitores chilenos, cerca de 885.940 estrangeiros estão habilitados a votar, segundo o Servicio Electoral de Chile (Servel), sendo 237.827 venezuelanos. Estimativas mostram que imigrantes de países vizinhos representam 38% dos que vivem no Chile, seguidos por peruanos (13,6%) e colombianos (10,9%).

O barista venezuelano Anthony Cedeño, que vive em Santiago há sete anos, relatou episódios de xenofobia e afirma que, embora se sinta dividido, acredita que muitos compatriotas votarão na direita. “Os venezuelanos acreditam que ela sempre vai zelar pelo crescimento econômico e pela segurança, o que é importantíssimo para nós”, observou.

Para Bottinelli, o uso do medo como instrumento eleitoral se tornou central. “Quando discursam, os dois candidatos acabam representando a raiva dos eleitores que se sentem abandonados politicamente. A cultura do medo se tornou o eixo dessas campanhas”, afirmou.