Dólar sobe 0,10% e fecha acima de R$ 5,29 com saída de recursos e remessas no radar
Apesar de perda global do dólar, real perdeu fôlego com temor fiscal, fluxo cambial negativo e perspectiva de aumento de remessas
COTAÇÃOO dólar à vista subiu levemente nesta quinta-feira (13), contrariando a tendência de baixa da moeda americana no exterior. A alta de 0,10%, que levou a cotação a R$ 5,2983, refletiu a cautela dos investidores diante de um possível aumento de remessas de recursos ao exterior e da saída de capital da bolsa brasileira, após a quebra do piso técnico de R$ 5,30.
O movimento local contrastou com a perda de força do dólar frente a moedas fortes como o euro e a libra. O índice DXY, que mede a força da moeda americana ante uma cesta de moedas, chegou a 98,991 pontos — o menor patamar desde julho — antes de encerrar o dia em 99,155 pontos.
Ainda assim, o real perdeu terreno. Operadores apontam que o comportamento negativo de moedas latino-americanas, como o peso colombiano (queda de cerca de 1%) e o peso mexicano, contaminou o desempenho do real na segunda etapa dos negócios.
Segundo Marcelo Bacelar, gestor da Azimut Brazil Wealth Management, o fortalecimento recente do real se deveu principalmente à rotação de carteiras de investidores estrangeiros, que migraram de ativos em economias desenvolvidas para bolsas e moedas emergentes.
“Foi um movimento basicamente externo. O tom mais duro da comunicação do Copom também ajudou, já que a Selic elevada favorece o carry trade e desestimula posições em dólar”, explicou Bacelar.
No entanto, ele alerta que esse impulso pode perder força. “Há expectativa de aumento de remessas ao exterior por causa da tributação de 10% sobre dividendos. Isso pode pressionar a moeda local nas próximas semanas”, afirmou.
Analistas consultados pela agência Broadcast destacam que a nova regra, que impõe alíquota de 10% sobre lucros enviados para fora do país, pode provocar uma corrida para antecipar essas operações. Apesar da isenção prevista para dividendos apurados até 2025 — mesmo que pagos até 2028 — ainda há dúvidas sobre como as empresas vão reagir.
A leitura predominante no mercado é de que o Banco Central (BC) deve atuar com linhas de recompra para fornecer liquidez, como ocorreu em outros momentos de fim de ano. A venda de dólares no mercado à vista, no entanto, deve ocorrer apenas em ocasiões pontuais, sem repetir o volume de dezembro passado, quando foram injetados US$ 21,575 bilhões.
O mercado também digeriu os desdobramentos da paralisação do governo americano, encerrada na noite de quarta-feira (12) com aprovação na Câmara dos Representantes. O chamado shutdown gerou um apagão de dados econômicos que limitou a atuação do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.
As declarações recentes de dirigentes do Fed, com visões divergentes, aumentaram a incerteza sobre o rumo da política monetária. O presidente Jerome Powell afirmou que um corte de juros em dezembro ainda não está garantido. Ferramenta do CME Group aponta agora mais de 50% de chance de manutenção da taxa básica americana na reunião de dezembro.
Essa indefinição contribuiu para a fraqueza global do dólar, beneficiando moedas de países desenvolvidos. O real, no entanto, não conseguiu aproveitar esse alívio internacional.
Mesmo com a alta desta quinta-feira, o dólar ainda acumula queda de 0,70% na semana e de 1,52% no mês de novembro. No acumulado de 2025, a moeda americana recua 14,27% frente ao real, após uma valorização de 1,08% em outubro.
A tendência para os próximos dias dependerá, segundo analistas, da combinação entre o cenário externo — especialmente o posicionamento do Fed — e os fatores domésticos, como fluxo cambial, política fiscal e a reação das empresas à tributação sobre dividendos.