Dólar volta a subir após cinco quedas seguidas, mas segue abaixo de R$ 5,30
Desvalorização do petróleo, saída de capital estrangeiro e ajustes no câmbio explicam movimento no mercado
COTAÇÃOApós cinco sessões consecutivas de queda, o dólar comercial interrompeu a sequência negativa e fechou em alta moderada nesta quarta-feira (12), cotado a R$ 5,2932, uma valorização de 0,38%. Mesmo com a oscilação, a moeda norte-americana permanece abaixo dos R$ 5,30, refletindo o bom desempenho acumulado do real em novembro, que registra queda de 1,62% no mês. No ano, o dólar acumula desvalorização de 14,3% frente à moeda brasileira.
A alta no câmbio foi impulsionada por uma combinação de fatores, entre eles a queda acentuada de cerca de 4% nos preços do petróleo, o que influenciou a retirada de capital estrangeiro da bolsa brasileira. Houve também o desmonte de operações de carry trade — estratégia que se aproveita do diferencial de juros entre países — o que levou à realização de lucros por investidores.
Apesar do real ter perdido força neste pregão, o comportamento do dólar no exterior foi majoritariamente de queda, especialmente em relação a outras moedas latino-americanas. O índice DXY, que mede o desempenho da divisa americana frente a seis moedas fortes, teve leve alta e fechou próximo aos 99,500 pontos, com investidores atentos às declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed) e à possível votação de um projeto para encerrar o "shutdown" do governo nos Estados Unidos.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, contextualiza o recente fortalecimento do real com o interesse renovado por ativos de países latino-americanos. Segundo ele, o diferencial de juros favorável da região e a melhora nas projeções de crescimento da China contribuíram para esse movimento. “Foi um processo muito forte, impulsionado por fatores globais que parecem favorecer a região”, disse.
No entanto, a possibilidade de redução da taxa Selic segue como um ponto de atenção no mercado. Embora parte dos analistas tenha interpretado a ata mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom) como mais branda, o Banco Central (BC) não sinalizou qualquer inflexão na sua política monetária. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reforçou esse posicionamento ao afirmar, durante coletiva em São Paulo, que “se você entendeu algum sinal na comunicação sobre o futuro, entendeu errado”.
Lima observa que o Copom reconhece avanços no controle da inflação, mas a autoridade monetária ainda espera dados mais sólidos antes de tomar decisões sobre juros. “O processo de desinflação é lento, e o BC ressaltou que precisa de mais informações”, explica.
No curto prazo, a manutenção da taxa Selic em 15% deve ajudar a reduzir a pressão sobre o câmbio provocada pelas remessas típicas de fim de ano. Ainda há incertezas sobre como empresas irão reagir à nova taxação de 10% sobre lucros enviados ao exterior. A medida, no entanto, não se aplica a dividendos apurados em 2025, mesmo que pagos nos anos seguintes.
O cenário externo também pode beneficiar o real, caso se confirme uma tendência de enfraquecimento do dólar globalmente. Isso dependerá, principalmente, da política monetária do Fed. Nesta quarta, Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, defendeu a manutenção dos juros até que haja mais clareza sobre a convergência da inflação para a meta de 2%. Já Stephen Miran, indicado por Donald Trump, afirmou que o atual patamar de juros nos EUA ainda está excessivamente restritivo.
“O Fed está dividido. A grande questão não é apenas se os juros vão cair em dezembro, mas se haverá espaço para um corte mais amplo no futuro”, avalia Lima, destacando que os dados econômicos a serem divulgados após o fim do shutdown serão decisivos para definir os próximos passos do banco central americano.