Ederson Hising | 11 de novembro de 2025 - 21h30

Tornados no Sul deixam 8 mortos; homem infarta após noite de destruição no Paraná

Rio Bonito do Iguaçu foi o epicentro da tragédia; ventos chegaram a 330 km/h e 835 pessoas ficaram feridas

TRAGÉDIA NO SUL
Rio Bonito do Iguaçu, 10 de novembro de 2025. - (Foto: Roberto Dziura Jr./AEN)

A oitava morte confirmada após a passagem de tornados pelo Sul do Brasil, na última sexta-feira (7), foi registrada em Rio Bonito do Iguaçu (PR), cidade mais devastada pelos fenômenos climáticos. A vítima, José Eronides de Almeida, de 70 anos, sofreu um infarto em frente ao centro de saúde do município na manhã de sábado (8), após passar a noite em meio aos escombros. A informação foi confirmada nesta terça-feira (11) pelo secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto.

“Ele foi acolhido no centro de saúde, mas não resistiu. Passou a noite vendo aquela destruição. Foi uma situação de extremo estresse", relatou o secretário em entrevista ao Estadão. A morte foi oficialmente classificada como resultado de estresse pós-trauma relacionado ao evento climático.

Com isso, o total de mortos chegou a oito: seis em Rio Bonito do Iguaçu (PR), uma em Guarapuava (PR) e uma em São José dos Ausentes (RS).

Internações e novos ferimentos

Segundo atualização da Secretaria de Saúde, 23 pessoas seguem internadas, sendo cinco em estado grave, em UTIs. Inicialmente, o número de internados era de 20. A elevação se deu após a entrada de novos pacientes em Laranjeiras do Sul (PR), a maioria com infecções em pontos cirúrgicos ou ferimentos adquiridos durante os trabalhos de reconstrução das casas.

Ao todo, 835 pessoas ficaram feridas durante e após a passagem dos tornados. “Tivemos muitas fraturas e cirurgias extensas. Alguns pacientes ainda permanecem hospitalizados, mas a situação está sob controle”, afirmou o secretário.

Destruição no sistema de saúde

A estrutura de saúde de Rio Bonito do Iguaçu também foi duramente afetada. Diversas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) foram destruídas, assim como o centro de especialidades. Uma obra de pronto atendimento que estava quase finalizada sofreu danos estruturais, mas, segundo Beto Preto, será possível reconstruí-la.

Apesar dos estragos, o centro de saúde central, onde funcionam a secretaria municipal e a base do Samu, resistiu parcialmente. No auge do socorro, a cidade contou com até 36 ambulâncias do Samu vindas de cidades vizinhas — número muito superior à única ambulância "beta" que a cidade possui, sem equipe médica embarcada.

Esforços de reconstrução e atendimento

Além do reforço de ambulâncias e suprimentos, a Força Nacional do SUS foi enviada ao município para auxiliar na organização do atendimento. Servidores de outras cidades também foram mobilizados para ajudar.

Pacientes com doenças crônicas que dependem de atendimento diário, como aqueles em hemodiálise, estão sendo remanejados. “Já estamos reorganizando a logística de transporte e consultas desses pacientes”, informou o secretário.

Beto Preto relatou ainda que o clima na cidade, que era de desolação no sábado, começou a mudar. “Hoje é um ambiente de refazimento. Chegaram voluntários de vários estados. Há marceneiros e carpinteiros reconstruindo telhados. As pessoas estão se doando para ajudar”, destacou.

Tornados com ventos de até 330 km/h

O Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) confirmou a formação de três tornados na sexta-feira, sendo um deles em Rio Bonito do Iguaçu, com ventos estimados em até 330 km/h. Outros dois atingiram os municípios de Guarapuava e Turvo.

A causa dos tornados foi a combinação de uma frente fria com um ciclone extratropical que atuava sobre o Oceano Atlântico. A meteorologista Sheila Paz explicou que a frente fria provocou a formação de supercélulas — tempestades rotativas —, condição propícia para a formação de tornados.

“O ciclone não é o tornado, mas foi ele que criou o ambiente ideal para que esses fenômenos ocorressem. Foi um processo rápido, mas extremamente destrutivo”, disse a especialista.