Iury de Oliveira | 10 de novembro de 2025 - 20h55

Cooperativa criada em Campo Grande quer solucionar escassez de trabalhadores no varejo

Com início das operações em Campo Grande, Cooperam oferece reposição de mercadorias com menos custos e mais agilidade para o varejo

REPOSIÇÃO INTELIGENTE
Cooperativa Cooperam é lançada em Campo Grande para atender varejo com mão de obra qualificada e flexível - (Foto: Iury de Oliveira)

Em resposta à crescente dificuldade de encontrar mão de obra qualificada no setor varejista, foi lançada nesta segunda-feira (10), na sede da Associação Comercial de Campo Grande (ACCG), a Cooperam – Cooperativa de Trabalho dos Abastecedores de Mercadorias. A proposta é clara: reunir profissionais experientes para oferecer aos supermercados e comércios locais um serviço de reposição mais eficiente, flexível e com menor custo. Com 70 cooperados já integrados, a cooperativa nasce como uma alternativa concreta para lidar com a crise de pessoal enfrentada pelo varejo campo-grandense.

A iniciativa, segundo os fundadores, surgiu da observação direta do mercado. O presidente da Cooperam, Osmar Alves de Sousa, de 58 anos, possui longa trajetória na área e viu na escassez de mão de obra uma oportunidade de organizar uma resposta coletiva. “O que motivou nós na abertura da cooperativa foi justamente enxergar um gap no mercado, uma brecha, uma necessidade de pessoas para abastecer os grandes supermercados, que têm muita carência em mão de obra”, explicou. A Cooperam foi oficialmente registrada em fevereiro deste ano e já conta com contratos em andamento, como o firmado com o Grupo Pereira – dono das redes Comper e Fort Atacadista.

Presidente Osmar Alves apresenta proposta da Cooperam durante lançamento em Campo Grande. (Foto: Iury de Oliveira)

Durante o lançamento, foram apresentadas as principais causas da falta de trabalhadores no setor: baixos salários, longas jornadas, rotatividade alta e, principalmente, a mudança no perfil dos jovens trabalhadores, que hoje preferem modelos de trabalho mais flexíveis e com propósito. “O modelo tradicional do varejo perdeu o apelo”, destacou a apresentação. Profissões como açougueiro, atendente de loja e embalador estão entre as mais difíceis de preencher.

A Cooperam aposta no modelo cooperativista para reverter esse cenário. Em vez do regime CLT, os cooperados atuam como autônomos organizados coletivamente. Eles são donos do próprio negócio, com autonomia sobre seus horários e uma remuneração proporcional ao serviço prestado. “O cooperado não é um CLT. O cooperado passa a ser dono da empresa. São todos profissionais qualificados e que querem fazer um serviço diferenciado dentro do mercado”, reforçou Osmar.

Gislaine Farias da Silva, diretora administrativa da Cooperam, explica que o diferencial está na jornada mais leve e na flexibilidade. “Nosso método de trabalho é de seis horas por dia dentro da loja. O cooperado pode trabalhar das 7h às 13h ou das 14h às 20h, por exemplo. Assim, conseguimos atender à demanda do varejo sem sobrecarregar o profissional, diferente da carga horária estendida dos CLTs, que muitas vezes trabalham por um salário mínimo com apenas uma folga semanal.”

Presidente Osmar Alves apresenta proposta da Cooperam durante lançamento em Campo Grande. (Foto: Iury de Oliveira)

Ela ainda destacou que a cooperativa é capaz de suprir ausências pontuais ou contratos de períodos específicos. “Hoje a gente está no GAF, por exemplo, suprindo uma demanda específica. O varejista entra em contato, faz a solicitação e, dependendo da necessidade, enviamos os cooperados imediatamente para atuação”, explicou Gislaine. A cooperativa também conta com apoio técnico da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e assessoria jurídica especializada para garantir a legalidade das operações conforme a Lei 12.690/2012.

Além de flexibilidade e agilidade no atendimento, o modelo traz redução de encargos trabalhistas aos supermercados, o que também estimula o engajamento de empresas. Beto Pereira, presidente do Grupo Pereira, reforçou o apoio ao projeto. “Nós fomos os primeiros a contratar, porque somos os padrinhos dessa iniciativa. A carência de mão de obra é geral no setor, e o sistema cooperativo é uma solução inteligente. Todo mundo ganha: o profissional, o lojista e o consumidor”, afirmou.

Beto Pereira, presidente do Grupo Pereira (Foto: Iury de Oliveira)

Para os cooperados, a perspectiva também é de crescimento. Osmar destacou que, mesmo com apenas dois meses de existência formal, a Cooperam já planeja alcançar até mil profissionais em sua base. “O nosso objetivo é atender bem os nossos clientes e crescer junto com eles. Quem entra para a cooperativa precisa ter o mesmo propósito: trabalhar, se qualificar e trazer mais gente comprometida. É assim que vamos crescer.”

Com uma estrutura jurídica sólida, atendimento personalizado e foco na eficiência operacional, a Cooperam pretende se consolidar como uma alternativa estratégica para o setor varejista em Mato Grosso do Sul. A combinação entre menor rotatividade, engajamento dos profissionais e redução de custos para o lojista torna o modelo cooperativista cada vez mais atrativo.

A cooperativa também está aberta à adesão de novos lojistas. O processo é simples: após o contato inicial, a proposta é avaliada, os detalhes são discutidos com o jurídico da cooperativa, e, uma vez aprovado o contrato, os cooperados são designados para atuação conforme a necessidade do cliente. O objetivo é fornecer uma força de trabalho qualificada, pronta para atuação imediata, com flexibilidade de horário e foco no resultado.

Em tempos de transformação do mercado de trabalho e mudanças no perfil dos profissionais, a Cooperam apresenta uma alternativa possível e adaptada às novas exigências do setor. Seja para o pequeno comerciante ou grandes redes, a proposta visa construir uma ponte entre a escassez de mão de obra e a necessidade de manter os estoques organizados e as prateleiras abastecidas.