Levy Teles | 10 de novembro de 2025 - 18h15

Relator da CPMI do INSS acusa comissão de "blindar" investigados e critica sigilo

Deputado Alfredo Gaspar diz que comissão protege suspeitos que teriam recebido R$ 10 milhões em propina e desafia STF a divulgar visitas do "Careca do INSS" a gabinetes

POLÍTICA
Relator Alfredo Gaspar afirma que a CPMI do INSS "blinda investigados" e cobra do STF a divulgação de visitas do "Careca do INSS" a gabinetes no Senado. - Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou nesta segunda-feira (10) que a própria comissão tem “blindado” investigados suspeitos de receber propina em esquemas ligados a fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social. Segundo ele, há pessoas que receberam até R$ 10 milhões em vantagens ilícitas e ainda não foram alvo de quebras de sigilo nem convocadas para depor.

“O STF não é o principal blindador dessa comissão. A blindagem pela própria comissão é uma vergonha”, declarou o relator durante a sessão.

Gaspar se referiu à resistência de membros da CPMI em aprovar a convocação e a quebra de sigilo de Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP); da publicitária Daniela Fonteles, que teria recebido R$ 5 milhões de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”; da empresária Roberta Luchsinger, que teria atuado com o mesmo operador; e de Gustavo Gaspar, ex-assessor do senador Weverton Rocha (PDT-MA).

Críticas ao sigilo imposto pelo Senado - Durante sua fala, o relator também criticou o sigilo de 100 anos imposto pelo Senado sobre informações referentes às visitas do “Careca do INSS” a gabinetes de parlamentares.

“Esse sigilo de 100 anos é outra vergonha da República”, afirmou Gaspar, pedindo que o Supremo Tribunal Federal (STF) libere os registros dessas visitas.

Há um mandado de segurança em tramitação no STF solicitando a divulgação dos dados. Gaspar desafiou a Corte:

“Abra essa caixa-preta dessas visitas.”

O senador Weverton Rocha já admitiu publicamente ter recebido o “Careca do INSS” em seu gabinete em três ocasiões, alegando que os encontros trataram de assuntos legislativos.

A sessão desta segunda-feira ouviu Igor Dias Delecrode, dirigente da Associação de Amparo Social do Aposentado e Pensionista (AASAP). No entanto, ele permaneceu em silêncio após obter habeas corpus do ministro André Mendonça, do STF, garantindo o direito de não responder a perguntas que pudessem incriminá-lo.

O relator reagiu citando reportagem do Estadão que relatou o cancelamento de um leilão dos Correios, no valor de R$ 280 milhões, após o envio de um cheque sem fundo por uma ONG de um pai de santo.

“Esse pai de santo é um coitado. Esses aqui tiveram sucesso”, ironizou o deputado, mencionando outras quatro entidades que, segundo ele, faturaram juntas cerca de R$ 714 milhões com descontos associativos de aposentadorias entre 2022 e 2025.

A AASAP, de Delecrode, teria recebido R$ 63,2 milhões. Segundo o relator, o dirigente “foi mais bem-sucedido ainda”, por integrar um grupo de empresas envolvidas em um desvio estimado de R$ 1,4 bilhão.

“Ele é o coração tecnológico da safadeza”, afirmou Gaspar, descrevendo o papel de Delecrode na coleta e manipulação de dados dentro do sistema fraudulento.

A CPMI do INSS apura a existência de uma rede de fraudes em consignados, associações e benefícios previdenciários, com possível envolvimento de servidores, políticos e empresários. O grupo teria usado ONGs e empresas de fachada para desviar recursos e intermediar contratos fraudulentos junto ao INSS.