Juiz anula destituição de Cezário e abre nova crise no futebol sul-mato-grossense
Decisão reconhece vícios em assembleia que retirou ex-presidente da FFMS, mas ele segue impedido de voltar
FUTEBOL DO MSA disputa pelo comando da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) ganhou um novo capítulo nesta semana. O juiz substituto Tito Gabriel Cosato Barreiro, da 2ª Vara Cível de Campo Grande, anulou a assembleia que, em outubro de 2024, destituiu Francisco Cezário de Oliveira da presidência da entidade.
A decisão judicial, proferida em 7 de novembro, apontou que a reunião que selou a saída de Cezário violou garantias básicas, como o direito à ampla defesa e ao contraditório, além de não cumprir o rito formal exigido pelo estatuto da federação e pela Lei Pelé (Lei 9.615/1998). Mesmo com a anulação, o ex-dirigente permanece afastado do cargo por ordem da Justiça Criminal e está suspenso pela CBF.
Cezário, que presidiu a federação por quase 30 anos, está sendo processado por crimes como organização criminosa, peculato, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Ele foi preso em abril de 2024 durante a Operação Cartão Vermelho, que investiga o desvio de cerca de R$ 10 milhões da FFMS.
Assembleia considerada irregular - Segundo a sentença, a assembleia extraordinária que oficializou a destituição de Cezário foi convocada com apenas 11 dias de antecedência e divulgada somente em jornal, sem notificação direta ao então presidente. O edital também não detalhava as acusações, e o parecer jurídico que embasava a reunião foi publicado apenas no site da federação, sem previsão estatutária para esse tipo de divulgação.
Na reunião, o ex-presidente teve apenas 30 minutos para apresentar defesa contra acusações baseadas em mais de 8 mil páginas de processo. A Justiça considerou o procedimento inadequado e determinou a nulidade do ato, além de condenar a FFMS a pagar R$ 1,5 mil em custas e honorários.
Cezário continua afastado - Apesar da vitória no campo cível, Cezário não reassume automaticamente o cargo. Seu retorno depende da revogação das medidas cautelares impostas pela Justiça Criminal e de eventual revisão da punição administrativa aplicada pela CBF, que o suspendeu de exercer qualquer função no futebol.
A decisão também não interfere na eleição realizada em abril de 2025, quando Estêvão Petrallás foi eleito presidente da FFMS com 48 votos, derrotando André Baird. No entanto, com a anulação da assembleia que destituiu formalmente Cezário, a base jurídica para a eleição pode ser questionada.
Federação pode convocar nova assembleia - O juiz deixou claro que a sentença não analisou o mérito das acusações de gestão temerária ou irregular, mas apenas os vícios de forma do processo de destituição. Segundo ele, a FFMS pode convocar nova assembleia, desde que siga corretamente o procedimento legal e estatutário.
A atual diretoria da FFMS ainda não comentou oficialmente a decisão. Procurada, a assessoria informou que uma nota estava sendo preparada, mas não foi enviada até a publicação da reportagem.