Daniela Amorim | 04 de novembro de 2025 - 10h35

Endividamento das famílias brasileiras atinge recorde em outubro

Confederação Nacional do Comércio aponta que 79% das famílias têm dívidas e 13% admitem não conseguir pagar; cenário preocupa o comércio antes da Black Friday e do Natal

ECONOMIA
Pesquisa da CNC mostra recorde de famílias endividadas e alerta para queda nas vendas de fim de ano - (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

O endividamento das famílias brasileiras atingiu o maior nível em 15 anos em outubro, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção de lares com dívidas chegou a 79,5%, novo recorde da série histórica iniciada em 2010, conforme dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Mesmo com a estabilidade no mercado de trabalho, a inadimplência segue elevada: 30,5% das famílias estão com contas atrasadas, o maior índice já registrado, e 13,2% afirmaram que não terão condições de pagar o que devem, permanecendo inadimplentes.

A CNC avalia que esse cenário deve impactar negativamente as vendas do comércio nas principais datas do fim de ano, como Black Friday e Natal. “O avanço no endividamento, na inadimplência e na percepção de insuficiência financeira simultaneamente e pelo terceiro mês seguido é um alerta”, afirmou o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

A pesquisa considera como dívidas cartão de crédito, cheque especial, carnês, crédito consignado, empréstimos pessoais, cheques pré-datados e prestações de carro e casa.

Entre os endividados, 49% têm contas atrasadas há mais de 90 dias, o maior percentual desde dezembro de 2024. Além disso, 32% das famílias estão comprometidas com dívidas por mais de um ano, e 19,1% destinam mais da metade da renda apenas para pagar o que devem.

Para o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, o peso dos juros altos tem anulado os efeitos positivos do emprego. “Nem mesmo o bom momento do mercado de trabalho tem sido suficiente para conter o avanço da inadimplência”, explicou.

A CNC projeta que o endividamento suba 3,3 pontos percentuais até o fim do ano, enquanto a inadimplência deve aumentar 1,5 ponto.

O quadro acende um alerta para o governo e o setor financeiro: sem medidas que aliviem o custo do crédito e reequilibrem as contas públicas, a tendência é de deterioração maior em 2026.