Redação | 04 de novembro de 2025 - 07h57

Guerra de CPIs: Comissão do INSS 'pisa em ovos' e vai dividir holofotes com a do Crime Organizado

Travada por disputas entre governo e oposição, CPI do INSS perde força enquanto Senado lança comissão sobre crime organizado

BASTIDORES DO CONGRESSO
Com embates entre base e oposição, CPI do INSS perde espaço para nova comissão sobre crime organizado - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

A disputa política em Brasília ganha novo capítulo com a instalação, nesta terça-feira (4), da CPI do Crime Organizado no Senado. A nova comissão promete atrair os holofotes e ofuscar a CPI do INSS, que há quase três meses tenta avançar nas investigações sobre descontos ilegais em aposentadorias — mas vem “pisando em ovos” diante de embates entre governo e oposição.

Criada por iniciativa da bancada oposicionista, a CPI do INSS nasceu com a expectativa de se tornar um instrumento de pressão contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, desde o início, a base governista tem conseguido derrubar requerimentos considerados sensíveis ao Palácio do Planalto, frustrando a tentativa de transformar a comissão em um “rolo compressor” sobre o Planalto.

O relator da CPI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirma que o andamento da comissão não será afetado pela nova CPI. “São temas distintos, ambas importantes para o futuro da nação. O importante é termos resultados concretos, com responsabilização de envolvidos e proteção aos aposentados”, disse.

Apesar da defesa pública, a CPI tem sido marcada por bloqueios políticos. Propostas de convocação de Frei Chico — irmão de Lula — e do ex-ministro Carlos Lupi foram rejeitadas pela base governista. Pedidos de quebra de sigilos e de prisão de dirigentes de entidades investigadas, como o Sindnapi e a Conafer, também foram barrados.

Por outro lado, as investigações da Polícia Federal atingiram nomes próximos de políticos do Centrão e da oposição, o que reduziu o ímpeto de ataques contra o governo. Documentos apontam, por exemplo, que Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do senador Davi Alcolumbre (União-AP), recebeu R$ 3 milhões de uma associação ligada ao suposto esquema. Já Jerônimo Arlindo da Silva Júnior, ex-assessor do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), teria vínculos com a Conafer, entidade investigada.

A Conafer, a Contag, a Amar Brasil e o Sindnapi estão no centro do escândalo de descontos indevidos em aposentadorias. A base governista, ao reagir às investidas da oposição, apresentou documentos que mostram proximidade de aliados de Jair Bolsonaro (PL) com essas organizações — incluindo fotos e registros de reuniões políticas.

Durante depoimentos, o ministro-chefe da CGU, Vinícius Marques, chegou a alfinetar o senador Sérgio Moro (União-PR), afirmando que o ex-ministro da Justiça recebeu denúncias semelhantes em sua gestão, mas não as encaminhou. Moro reagiu: “Em 2019, ninguém tinha colocado uma quadrilha no comando do INSS como no governo Lula.”

O embate com o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, intensificou o clima tenso na comissão. Acusado por Moro de receber suborno, Stefanutto rebateu com ironia, questionando o comportamento do ex-juiz durante a Lava Jato.

O depoimento mais esperado agora é o do ex-ministro Onyx Lorenzoni, que teve a convocação adiada diversas vezes. Ele deve ser questionado sobre serviços advocatícios prestados por seu filho a uma das entidades sob investigação e sobre uma doação de R$ 60 mil à sua campanha ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022.

Para o vice-presidente da CPI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), o impasse é reflexo de uma CPI dividida. “Há grupos muito claros: uns defendem Bolsonaro, outros blindam o governo Lula. A CPI não pode ser usada como palanque político, mas para punir quem cometeu crimes e devolver o que foi desviado”, afirmou.

Por enquanto, a CPI do INSS segue sem novos avanços concretos. Com os dois lados expostos e acuados, a comissão perdeu ritmo — e deve ver a CPI do Crime Organizado ocupar o espaço de maior visibilidade política nas próximas semanas.