Bolsonaro perde espaço político em meio a pressão do STF e avanço de Lula nas pesquisas
Condenado e sob risco de prisão, ex-presidente enfrenta isolamento político e vê enfraquecer o PL da Dosimetria, enquanto Lula retoma popularidade e amplia diálogo internacional.
POLÍTICAO ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem perdido força política diante do cerco jurídico do Supremo Tribunal Federal (STF), do impasse no Congresso e da recuperação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de popularidade.
A pressão aumentou nas últimas semanas com os recursos apresentados à Corte, o travamento do PL da Dosimetria e a reaproximação diplomática entre o governo brasileiro e Donald Trump, fatores que, combinados, colocam em dúvida a influência de Bolsonaro nas eleições de 2026.
Pressão jurídica e risco de prisão
Condenado a 27 anos e três meses de prisão, Bolsonaro apresentou, por meio de sua defesa, um dos últimos recursos possíveis antes do julgamento definitivo pela Primeira Turma do STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
A análise está marcada para 7 de novembro, mas a expectativa é que os ministros mantenham o entendimento anterior, já que os argumentos repetem teses rejeitadas em decisões anteriores.
Crise política e impasse no Congresso - No campo político, o desgaste do ex-presidente também se reflete no Congresso. O chamado PL da Dosimetria, de autoria da oposição e relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), continua travado na Câmara dos Deputados.
A proposta reduz as penas dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e poderia beneficiar diretamente Bolsonaro.
A falta de apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), aliado de Lula, tem dificultado o avanço do texto.
Para Mário Heringer (PDT-MG), líder do partido na Câmara, o projeto “perdeu gás” até mesmo entre oposicionistas. Já o deputado Zucco (PL-RS), líder da bancada do PL, afirma que o partido mantém a proposta na pauta e defende uma anistia ampla, geral e irrestrita.
Segundo o cientista político Leandro Consentino, do Insper, a perda de tração do projeto está ligada à mudança de foco do Congresso após a megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, que recolocou a segurança pública no centro dos debates.
“Essa pauta vai perdendo o timing e ficando velha. Além de não agradar nem à esquerda nem à direita, acabou naufragando”, avaliou.
O cenário é agravado pelo desgaste do Legislativo com votações polêmicas, como a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara e rejeitada pelo Senado após forte reação pública.
O episódio reforçou entre deputados a percepção de que nenhum projeto avança sem aval dos senadores, aumentando a resistência em pautar o PL da Dosimetria.
Além disso, a ofensiva articulada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comentarista Paulo Figueiredo junto a autoridades dos Estados Unidos — em tentativa de pressionar o STF e interferir na ação penal do golpe — teve efeito contrário.
A estratégia resultou em tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, sanções a ministros do Supremo e no rompimento diplomático entre os governos de Lula e Trump.
Na sequência, Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar como medida cautelar, e Eduardo passou a responder a denúncia por coação no curso do processo.
Lula retoma protagonismo - Após meses de negociações conduzidas pelo Itamaraty, o diálogo entre Brasília e Washington foi restabelecido, culminando no primeiro encontro entre Lula e Trump, na Malásia, na semana passada.
Para o cientista político Antonio Lavareda, o episódio simboliza a capacidade de Lula de converter tensão em diplomacia, o que contribui para sua recuperação nas pesquisas.
“O que teve maior peso foi a reação de Lula e do governo brasileiro ao tarifário e às sanções de Trump”, afirmou.
A melhora da imagem do presidente também repercute no campo eleitoral. O avanço de Lula enfraquece a aposta da direita em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), considerado até então o nome mais competitivo do grupo para 2026.
“Bolsonaro ainda tem algum capital político, mas ele está cada vez menor. Sua ascendência sobre a direita vem se erodindo, embora a real dimensão desse desgaste só possa ser medida em 2026”, concluiu Consentino.