Abertura de consórcio entre governadores de direita gera críticas de Gleisi Hoffmann
Ministra acusa grupo de usar segurança pública com fins eleitorais e alerta para 'risco de alinhamento com Trump'
POLÍTICAA criação do chamado “Consórcio da Paz”, anunciado por governadores de direita na última quinta-feira (30) no Rio de Janeiro, gerou forte reação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Por meio das redes sociais, a petista classificou o encontro como uma tentativa de “dividir politicamente o país” e afirmou que os líderes regionais “investem no uso político da segurança pública”.
A crítica da ministra ocorre em meio à repercussão da Operação Contenção, realizada pelo governo do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou em mais de 120 mortes. A ação reuniu 2.500 agentes de segurança e foi uma das maiores ofensivas contra o crime organizado no estado.
Críticas ao alinhamento com políticas externas - Em sua publicação, Gleisi acusou os governadores de tentarem aproximar o Brasil do intervencionismo militar norte-americano, em referência ao ex-presidente Donald Trump. Segundo ela, “ao invés de somar forças no combate ao crime organizado, como propõe a PEC da Segurança enviada pelo presidente Lula ao Congresso, os governadores da direita, vocalizados por Ronaldo Caiado, investem na divisão política e querem colocar o Brasil no radar do intervencionismo militar de Donald Trump na América Latina”.
A presidente do PT ainda criticou a condução do debate sobre segurança por parte dos líderes estaduais. “Do mesmo jeito que Eduardo Bolsonaro e sua família de traidores da pátria fizeram com as tarifas e a Magnitsky. Segurança pública é uma questão muito importante, que não pode ser tratada com leviandade e objetivos eleitoreiros. Combater o crime exige inteligência, planejamento e soma de esforços”, completou.
O que é o Consórcio da Paz - Anunciado oficialmente no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, o “Consórcio da Paz” foi idealizado para reforçar a cooperação entre estados no enfrentamento ao crime organizado. O objetivo, segundo os governadores, é construir estratégias integradas para fortalecer ações de segurança pública.
Estiveram presentes na reunião os governadores Cláudio Castro (PL-RJ), Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Eduardo Riedel (PP-MS) e a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou de forma virtual.
Apesar da proposta, que prevê ações integradas entre os estados, o consórcio nasce envolto em polêmicas e divergências políticas. O grupo é formado majoritariamente por governadores de partidos de oposição ao governo federal, o que aumenta a tensão no debate sobre o controle da violência nas regiões metropolitanas.
Contexto da operação no Rio de Janeiro - A ofensiva policial no Rio, que motivou parte da repercussão nacional e precedeu o anúncio do consórcio, foi voltada contra o Comando Vermelho e resultou em números elevados de mortes. Segundo o governo fluminense, 121 pessoas morreram durante a ação. Já a Defensoria Pública do Estado contabiliza 132 mortes, incluindo suspeitos e agentes de segurança.
A operação foi alvo de críticas de entidades de direitos humanos e levantou novamente o debate sobre o uso da força policial em comunidades de periferia. Cláudio Castro defendeu a ação, alegando que o Estado precisa reagir com firmeza ao avanço do tráfico e das facções.
Divisão política deve marcar debate sobre segurança - A reação da ministra Gleisi Hoffmann revela o clima de tensão crescente entre o governo federal e os governadores alinhados à direita em temas sensíveis como segurança pública. Enquanto o Executivo federal defende uma abordagem integrada e institucionalizada, via PEC da Segurança, os governadores apostam em alianças regionais, com foco em medidas diretas e reforço de aparato policial.
A crítica da petista também se insere em uma disputa narrativa que tende a se intensificar nos próximos meses, especialmente à medida que o debate eleitoral de 2026 se aproxima. O tema da segurança pública, historicamente sensível e de alto apelo popular, deve seguir como um dos principais campos de embate entre os dois blocos políticos.