Jamille Gomes e Maria Edite Vendas | 31 de outubro de 2025 - 15h00

Professora de Campo Grande vence o câncer de mama e alerta para a importância do diagnóstico precoce

Durante o mês voltado à prevenção da doença, Paula Terra compartilha jornada de superação e o papel da rede de apoio durante o tratamento

OUTUBRO ROSA
Paula transformou sua experiência em incentivo ao autocuidado e à prevenção. - (Foto: Arquivo Pessoal)

No Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, a professora de educação infantil Paula Terra, de 60 anos, compartilha uma história que traduz o verdadeiro sentido da campanha: amparo e cuidado.

Ao perceber um pequeno nódulo na mama direita, ela começou o que definiu como uma ‘’corrida para conseguir a cura’’. Foram diversas visitas a médicos especialistas em busca de diferentes opiniões, inúmeros exames até finalmente a realização da cirurgia de retirada do tumor e as sessões de quimioterapia posteriores.

Paula conta que lidar com o tratamento, as mudanças causadas pela doença e o medo constante não foi fácil, mas que ter uma rede de apoio foi essencial durante esse difícil  processo.

‘’Receber o diagnóstico foi difícil, mas como sou voluntária do Grupo Onça Pintada, que realiza um trabalho lindo de prevenção e combate ao câncer de mama, para mim foi um pouco mais tranquilo, porque já sabia o caminho que teria que percorrer e do apoio que receberia”, relata a professora.

São instituições como o Grupo Onça Pintada e a Casa Rosa, que acolhem e orientam mulheres com uma melhor compreensão de todas as etapas desse processo, desde a mamografia até, em casos de diagnóstico do câncer, o início do tratamento e as sessões de quimioterapia.

Esse apoio e empatia ajudam na saúde física e mental da paciente, como conta a médica ginecologista Hanimme Tabosa. ‘’Quando a mulher é recebida com empatia, entende o porquê do exame e se sente acolhida, o medo diminui e com uma boa explicação e acolhimento, a experiência se torna muito mais leve.’’

O depoimento da professora que teve a vida transformada após o câncer reafirma como uma rede de apoio modifica a experiência ‘’Um dos efeitos da quimioterapia é tirar a nossa energia, por isso, muitas vezes fiquei absolutamente sem forças, mas o cuidado das pessoas à minha volta deu conta disso’’.

E não é só durante as visitas aos hospitais que essas mulheres encontram assistência. Iniciativas como a parceria entre a Agepen, a Receita Federal e a Rede Feminina de Combate ao Câncer, que entregou mais de 100 perucas e repassou aproximadamente 40kg de cabelo humano para futuras confeccoes, ajudam as mulheres a resgatar a feminilidade e a autoestima perdidas ao longo do tratamento, marcado por cicatrizes, ganho de peso devido aos medicamentos e a perda total dos cabelos.

Resistência à mamografia

Apesar de histórias de superação como a de Paula inspirarem outras mulheres, a adesão à mamografia continua sendo um desafio no Brasil. Segundo dados do Panorama do Câncer de Mama, apenas 24% das brasileiras realizam o exame a cada dois anos, intervalo recomendado para o rastreamento eficaz entre mulheres de 40 a 74 anos.

Entre os principais motivos para a baixa procura estão o desconforto durante o procedimento e a falsa sensação de segurança na ausência de sintomas. A médica mastologista Raquel Cristina, membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), explica que a grande parte dos mitos relacionados à mamografia estão ligados ao fato do exame utilizar radiação.

“A mamografia utiliza uma dose extremamente baixa de radiação, equivalente à exposição natural que recebemos em cerca de sete semanas da vida cotidiana, e não representa risco à saúde.”

Segundo a especialista, o receio e a falta de entendimento sobre o assunto ainda é muito comum entre mulheres de todas as idades, especialmente devido à divulgação de informações incorretas sobre o assunto.

“Propagar a ideia de que a mamografia é perigosa ou causa dor é um desserviço às mulheres. O exame pode causar apenas um leve desconforto momentâneo devido à compressão necessária das mamas, mas não provoca dor intensa, e o incômodo passa em poucos segundos”, ressalta

Raquel explica que, na primeira mamografia, é comum sentir ansiedade e um leve incômodo durante o exame, principalmente durante a compressão. No entanto, com o cuidado da equipe, a experiência se torna mais confortável, e muitas mulheres se sentem aliviadas ao perceberem que estão cuidando da própria saúde.

Além da mamografia, especialistas ressaltam como o autoexame é essencial para a detecção precoce. Conhecer o próprio corpo, observar pequenos caroços nas mamas e axilas ou alterações na pele é considerado uma virada de chave que facilita a identificação de sinais de alerta e aumenta as chances de remissão e cura do câncer em até 90%.

A especialista reforça ainda que “dentre os diversos tipos de câncer, o de mama é um dos que apresenta maior potencial de cura quando descoberto de maneira precoce. Além disso, o diagnóstico inicial traz um benefício importante: possibilita cirurgias menos invasivas e, em muitos casos, evita a necessidade de quimioterapia”.

Prevenção ao alcance de todas

A implementação do programa “Agora Tem Especialistas”, criado pelo Ministério da Saúde para reduzir o tempo de espera nas unidades básicas, tem ampliado o acesso à prevenção e ao diagnóstico do câncer de mama, não apenas em Mato Grosso do Sul, mas em todo o país. Atualmente, 28 unidades móveis percorrem o Brasil oferecendo atendimentos gratuitos à população, que incluem serviços odontológicos, mamografias e o exame preventivo, conhecido como papanicolau.