Igor Soares | 30 de outubro de 2025 - 09h15

Defensoria Pública aponta indícios de execuções e tortura em megaoperação na Penha e no Alemão

Órgão relata suspeitas de decapitações, facadas e presença de adolescentes entre os mortos na ação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO
Corpos de mortos em megaoperação da polícia na zona norte do Rio; alguns cadáveres estavam com roupas camufladas. - (Foto: Pedro Kirilos/Estadão)

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) afirmou ter encontrado indícios de graves violações de direitos humanos durante a megaoperação policial realizada na última terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte da capital fluminense.

A ação conjunta das polícias Civil e Militar, que mirava integrantes do Comando Vermelho, resultou em 121 mortes e 113 prisões, segundo balanço oficial. O governador Cláudio Castro (PL) classificou a operação como um “sucesso”, afirmando que as únicas vítimas foram os quatro policiais mortos em confronto — o que faz desta a operação mais letal da história do estado.

Relatos de tortura e execuções

O defensor Marcos Paulo Dutra, coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da DPRJ, disse que há relatos de corpos com sinais de facadas, decapitações e tiros concentrados na cabeça e no peito.

“Recebemos relatos muito preocupantes, de pessoas com ferimentos por faca e de possíveis casos de tortura. Há menções até a corpos decepados”, afirmou Dutra.

Familiares também relatam cenas de extrema violência. “Tiraram na faca. Pessoas sem pescoço. Deixaram a cabeça na árvore. Coisa de louco", contou Tarsiellen Teixeira Francisco, parente de uma das vítimas.

Segundo a Defensoria, há ainda suspeita de que entre as vítimas estejam adolescentes e até uma criança. “Identificamos sete possíveis adolescentes entre os mortos, e um deles aparentava ser uma criança”, disse Dutra.

O secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, afirmou que a operação teve 60 dias de planejamento e foi necessária para retomar áreas dominadas pelo crime organizado. Segundo ele, os criminosos reagiram com drones equipados com explosivos, o que demonstra o aumento do poder de fogo das facções.

A defensora Cristiane Xavier Souza informou que seis corpos já foram liberados após a perícia e que os reconhecimentos devem continuar nesta quinta-feira (30).

Ela relatou ainda ter encontrado dois corpos em uma área de mata que divide os complexos da Penha e do Alemão. “Não esperávamos encontrar corpos ali. Eles estavam entre as pedras”, afirmou.

Pedido de transparência nas investigações

A Defensoria informou que vai acionar a Justiça para garantir que as perícias sejam registradas em vídeo e foto, visando maior transparência e auditabilidade dos procedimentos.
O órgão também acompanhará as audiências de custódia dos presos.