Guilherme Caetano | 28 de outubro de 2025 - 16h50

Governo federal rebate Cláudio Castro e diz que tem atendido pedidos do Rio por reforço policial

Após operação com 64 mortos, MJSP afirma que apoiou ações no estado e acusa gestão fluminense de não usar recursos já repassados

CRISE NA SEGURANÇA
Cláudio Castro acusa ausência de apoio federal; Ministério da Justiça rebate e lista medidas adotadas desde 2023 - Foto: Reprodução

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) respondeu nesta terça-feira (28) às declarações do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e contestou a acusação de que o governo federal estaria ausente no enfrentamento ao crime organizado no estado. Em nota, a pasta, chefiada por Ricardo Lewandowski, afirmou que "tem atendido prontamente a todos os pedidos" de envio da Força Nacional ao território fluminense desde 2023.

A resposta veio horas depois de Castro, durante coletiva sobre a operação que deixou 64 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, afirmar que o Rio enfrenta sozinho a expansão do Comando Vermelho. Segundo ele, o estado não conta com apoio de tropas federais, blindados ou reforços da segurança nacional.

"É uma operação maior do que a de 2010 e, infelizmente, dessa vez, como ao longo desse mandato inteiro, não temos o auxílio de nenhum agente das forças federais. Estamos sozinhos nessa luta", disse o governador.

MJSP cita operações, investimentos e repasses não utilizados - Em tom direto, o Ministério listou medidas já tomadas em cooperação com o governo estadual. Desde 2023, o governo Lula teria aprovado 11 pedidos de renovação da Força Nacional no Rio, além de coordenar 178 operações da Polícia Federal em 2025, com 210 prisões e apreensão de 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo.

A nota também detalha ações da Polícia Rodoviária Federal e menciona o cumprimento de 855 mandados de prisão entre 2024 e 2025. Além disso, destacou acordos de cooperação técnica, como a criação da Célula Integrada de Localização de Foragidos e a adesão do estado a redes nacionais de enfrentamento ao crime organizado, como a Renorcrim e o Recupera.

O ministério também rebateu as críticas ao apontar que o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) repassou R$ 99 milhões ao estado entre 2016 e 2024, mas apenas R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões em conta. Do Fundo Nacional de Segurança Pública, o saldo não utilizado ultrapassa R$ 174 milhões, segundo o MJSP.

O embate entre Castro e o governo federal acontece no momento mais tenso da segurança pública fluminense em anos. A operação contra o Comando Vermelho, que mobilizou 2,5 mil policiais, é considerada a maior em 15 anos e foi deflagrada após um ano de investigações.

Durante a coletiva, o governador afirmou que não pediu apoio federal desta vez porque “já teve três negativas” anteriores. Segundo ele, o Executivo nacional teria recusado o envio de blindados e argumentado que a operação dos veículos depende de servidores federais.

“O presidente já falou que é contra GLO (Garantia da Lei e da Ordem). A gente entendeu que a realidade é essa e não vamos ficar chorando pelos cantos”, disse Castro.

Secretário estadual também cobra cooperação - Mais cedo, o secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Santos, declarou à TV Globo que o estado não tem condições de enfrentar sozinho o poder das facções criminosas. Ele reforçou o apelo por articulação entre os três níveis de governo, com base em dados alarmantes: quase 1900 favelas, 600 fuzis apreendidos e uso de drones com explosivos por traficantes.

"Isso é um estado de guerra. Sozinho ninguém faz nada. É fundamental que o Estado, a prefeitura e a União sentem à mesa, sem ideologia, para enfrentar essa realidade", afirmou.

O MJSP ainda lembrou que, em fevereiro deste ano, Cláudio Castro esteve pessoalmente no ministério para reunião com Ricardo Lewandowski. Na ocasião, o ministro atendeu a um pedido do estado e ofereceu 10 vagas em presídios federais para líderes do Comando Vermelho.

Apesar das declarações públicas de ambos os lados, o governo federal reforça que a cooperação institucional segue ativa, mas exige contrapartidas e uso efetivo dos recursos já disponibilizados.