Lula propõe intermediar crise entre EUA e Venezuela em reunião com Trump na Malásia
Presidente brasileiro apresentou proposta de mediação durante encontro reservado com Trump e demonstrou preocupação com operação militar americana no Caribe
INTERNACIONALDurante uma reunião de 45 minutos com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizada neste domingo (26), na Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ofereceu-se para atuar como mediador no conflito crescente entre os EUA e a Venezuela. O encontro ocorreu de forma reservada, na sala 410 do Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC), e teve como foco as tensões geopolíticas na América do Sul.
A proposta brasileira foi formalizada por meio de uma pasta entregue por Lula a Trump, contendo análises e argumentos diplomáticos sobre a crise política e comercial com a Venezuela. Segundo fontes do Palácio do Planalto ouvidas pela reportagem, o documento destacava a disposição do Brasil em colaborar com uma solução pacífica, reforçando a ideia da América do Sul como uma região de paz.
Memória de Chávez e crítica à escalada militar - Durante a conversa, Lula relembrou sua atuação como interlocutor regional em momentos de tensão durante o governo de Hugo Chávez e criticou a crescente presença militar americana no Mar do Caribe. O presidente brasileiro demonstrou preocupação com uma possível ação militar contra o regime de Nicolás Maduro e alertou que o argumento de combate ao narcotráfico não justificaria uma escalada armada.
Fontes próximas ao governo americano indicaram que, apesar da movimentação militar, não há planos imediatos de ataque à Venezuela. Ainda assim, há no governo brasileiro setores que mantêm cautela com a administração Trump, temendo contaminação política nas relações bilaterais.
Trump acusa Maduro; Brasil busca neutralidade - Segundo relato de testemunhas do encontro, Trump afirmou que Maduro estaria liberando presos para que criminosos cruzassem a fronteira com os Estados Unidos. O presidente americano, inclusive, avalia uma possível ação direta em território venezuelano, e o porta-aviões USS Gerald R. Ford já foi incorporado à operação militar no Caribe.
As tensões aumentaram desde setembro, quando as forças dos EUA anunciaram bombardeios contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas, com saldo de ao menos 43 mortos. Caracas sustenta que a operação esconde uma tentativa de desestabilizar o regime.
Distância de Maduro e possibilidade de mediação - Embora Lula já tenha sido um aliado político de Maduro, os dois não se falam desde julho de 2024. O presidente brasileiro se afastou do líder venezuelano após recusar-se a apoiar a contestada eleição promovida em Caracas.
A proposta de mediação surge, portanto, como um movimento diplomático estratégico do Brasil para evitar um agravamento do conflito na região e tentar preservar relações equilibradas tanto com Washington quanto com Caracas.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros avaliam que o país pode assumir um papel relevante na busca por soluções pacíficas, embora o próprio Lula tenha admitido a assessores que já se desgastou politicamente ao lidar com Maduro no passado.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, já havia sinalizado interesse na mediação brasileira. "Nem mesmo Lula reconhece Maduro como o vencedor das eleições ou o líder legítimo da Venezuela. Então, não sei se eles podem ser úteis ou não. Mas eu quero, é interessante", declarou anteriormente.