Encontro entre Lula e Trump na Malásia repercute e expõe impasses sobre tarifaço
Reunião paralela à cúpula da Asean teve tensão diplomática, respostas evasivas e destaque na imprensa internacional
RELAÇÕES EXTERIORESO aguardado encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quinta-feira (horário local), durante a Cúpula de Líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, Malásia, ganhou repercussão global e expôs os desafios na relação bilateral entre Brasil e EUA, especialmente em torno do recente aumento de tarifas americanas contra produtos brasileiros.
A reunião, que ocorreu por volta das 15h30 no Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC), abordou temas sensíveis, como a política comercial dos EUA, com destaque para o chamado “tarifaço” aplicado sobre setores da exportação brasileira. Também esteve no radar a tensão política herdada de embates anteriores, incluindo a possível influência do ex-presidente Jair Bolsonaro no endurecimento da postura americana.
Imprensa internacional destaca tensão e clima frio - A imprensa internacional acompanhou com atenção o encontro. O jornal The New York Times descreveu Lula e Trump como “agitados” e afirmou que ambos mostraram “poucas respostas claras” sobre os rumos das negociações. Um momento constrangedor marcou a cobertura: ao ser questionado se a condenação de Bolsonaro estaria na pauta da conversa, Trump respondeu, de forma ríspida, que “não é da conta” do jornalista.
O periódico norte-americano também lembrou que Lula levou uma pauta escrita em inglês para entregar ao colega americano e chegou a criticar o tempo perdido respondendo à imprensa antes da reunião começar.
Já o The Washington Post destacou que a sobretaxa imposta pelos EUA acabou fortalecendo Lula politicamente, ao remeter à sua imagem de resiliência construída desde o tempo de sindicalista. Segundo o jornal, o episódio pode ajudar a consolidar a imagem de Lula como defensor dos interesses nacionais diante de pressões externas.
A emissora norte-americana ABC News registrou o encontro como a primeira viagem oficial de Trump à Ásia desde sua volta à presidência dos Estados Unidos. O canal ressaltou o simbolismo do momento, especialmente após um período de tensão entre os dois países.
Segundo o espanhol El País, Lula e Trump “finalmente se aproximam”, encerrando o que classificou como uma das “piores crises diplomáticas entre Brasil e EUA em dois séculos”. O jornal contextualizou a reunião com a atual distensão global, mencionando a aproximação simultânea entre Washington e Pequim, que terá um novo capítulo na próxima quinta-feira, com o encontro entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping.
A emissora Al Jazeera, com sede no Catar, adotou um tom mais positivo e destacou a declaração de Trump de que o encontro foi “muito bom”. Também deu espaço à fala do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que afirmou que as negociações entre os dois países devem ser iniciadas imediatamente, com possibilidade de conclusão nas próximas semanas.
Pauta econômica e diplomacia pragmática - O governo brasileiro demonstrou preocupação com os impactos econômicos do tarifaço sobre setores estratégicos da economia nacional, como o agronegócio e a indústria. A postura firme de Lula ao apresentar um dossiê com demandas claras foi interpretada como um gesto pragmático, mas com forte carga política.
Internamente, a diplomacia brasileira busca manter a retórica de diálogo e reconstrução, mesmo diante das divergências. A presença de Lula na cúpula da Asean e o esforço em manter um canal direto com os EUA indicam que o Planalto aposta na retomada de pontes diplomáticas, mesmo em um contexto adverso.