25 de outubro de 2025 - 07h40

Em discurso na Malásia, Lula critica guerra em Gaza e defende criação do Estado Palestino

Presidente também cobrou reformas em organismos multilaterais e condenou o protecionismo econômico; encontro com Donald Trump ocorre neste domingo (26)

INTERNACIONAL
Em discurso na Malásia, Lula criticou a guerra em Gaza, defendeu o reconhecimento do Estado Palestino e cobrou reformas nas instituições internacionais. - (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar neste sábado (25) a continuidade da guerra na Faixa de Gaza e a resistência internacional em reconhecer a criação de um Estado Palestino. A declaração foi feita durante a cerimônia em que recebeu o título de doutor "Honoris Causa" em Filosofia e Desenvolvimento Internacional do Sul Global pela Universidade Nacional da Malásia, em Putrajaya, capital administrativa do país.

“As comunidades universitárias em todo o mundo têm elevado suas vozes contra a brutalidade do genocídio em Gaza e contra a inércia moral que impede até hoje que o Estado Palestino seja criado. Quase sempre são os jovens que nos recordam que a paz é o valor mais precioso da humanidade”, afirmou o presidente.

Durante o discurso, Lula também criticou o aumento de tarifas comerciais entre países, classificando-as como mecanismos de coerção internacional.

“Nações que não se dobram ao colonialismo e à dicotomia da Guerra Fria não se intimidarão diante de ameaças irresponsáveis”, disse o presidente, em referência indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aumentou em 50% as tarifas de importação sobre produtos brasileiros no início de agosto.

Ao defender o multilateralismo, o presidente destacou o papel do Sul Global — grupo que reúne países da América Latina, Ásia e África com histórico de desigualdades estruturais — na reforma dos organismos internacionais e na busca por maior equilíbrio global.

“A defesa de uma ordem baseada no diálogo, na diplomacia e na igualdade soberana das nações está no cerne da proposta brasileira de reforma das Nações Unidas. Sem maior representatividade, o Conselho de Segurança seguirá inoperante e incapaz de responder aos desafios do nosso tempo.”

No campo econômico, Lula afirmou ser inaceitável que países ricos mantenham nove vezes mais poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI) em comparação às nações em desenvolvimento. Ele também condenou o protecionismo comercial e a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), que, segundo ele, perpetuam uma situação de assimetria entre o Norte e o Sul globais.

“É a hora de interromper os mecanismos que sustentam há séculos o financiamento do mundo desenvolvido às custas das economias emergentes”, afirmou.

O presidente ainda defendeu a necessidade de revisão do modelo neoliberal e de uma estrutura financeira internacional voltada ao desenvolvimento sustentável.

“Não podemos vislumbrar um mundo diferente sem questionar um modelo neoliberal que aprofunda desigualdades. Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015 — cifra que supera o PIB nominal atual da Asean e do Brasil somados”, ressaltou Lula.

Lula permanece na Malásia até terça-feira (28). No período, participará de reunião com empresários locais e representantes da Asean, bloco econômico que reúne países do Sudeste Asiático.

Neste domingo (26), o presidente brasileiro deve se reunir com Donald Trump para discutir as novas tarifas impostas aos produtos brasileiros e buscar uma solução diplomática para o impasse comercial entre os dois países.