Mateus Maia e Cícero Cotrim | 23 de outubro de 2025 - 15h55

Isenção de IR até R$ 5 mil pode gerar déficit de R$ 1 bilhão por ano, diz IFI

Estudo do Senado aponta perda de arrecadação com mudanças feitas pela Câmara no projeto original do governo

ECONOMIA FEDERAL
Projeto de isenção do Imposto de Renda agora será analisado pelo Senado Federal após mudanças na Câmara - Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal divulgou, nesta quinta-feira (23), o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de outubro, no qual projeta impacto negativo de R$ 1 bilhão por ano com o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para quem recebe até R$ 5 mil mensais. A estimativa considera a versão final aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados.

O dado representa uma mudança relevante em relação à proposta original enviada pelo governo federal. Segundo o relatório, a versão inicial previa um superávit de R$ 9 bilhões por ano com a implementação das novas regras.

Entenda as mudanças que alteraram o impacto fiscal - O relatório da IFI detalha que o projeto, ainda em sua versão aprovada por comissão especial da Câmara, teve o superávit reduzido para R$ 4,3 bilhões. Isso ocorreu, segundo os técnicos, pela exclusão de algumas fontes da base do imposto mínimo, o que enfraqueceu os mecanismos de compensação fiscal.

Já na votação em plenário, a situação se agravou: com a inclusão da parcela isenta da atividade rural entre as exclusões do imposto mínimo, a conta virou e o saldo passou a ser negativo. O resultado é um déficit projetado de R$ 1 bilhão por ano nas contas públicas, caso o projeto entre em vigor da forma como foi aprovado.

Apesar da projeção de déficit, a IFI faz uma ressalva importante: a neutralidade fiscal do projeto pode ser alcançada, desde que as medidas compensatórias previstas sejam de fato implementadas com sucesso.

“De forma agregada, as estimativas sugerem que o conjunto de medidas do IRPF – no projeto original e na versão aprovada pela Câmara – tendem à neutralidade fiscal, condicionada à efetiva arrecadação das medidas compensatórias e ressalvando-se a elevada sensibilidade dos resultados às premissas comportamentais adotadas”, diz o relatório.

Ou seja, a sustentabilidade fiscal da proposta está diretamente ligada ao comportamento do contribuinte e à capacidade de arrecadação efetiva do governo com os novos ajustes.

Consultoria do Senado também reviu cálculos - Outro levantamento divulgado nesta semana reforça o alerta da IFI. A Consultoria de Orçamento do Senado Federal (Conorf) também revisou suas projeções para o impacto da medida ao longo de três anos.

A nova análise reduziu a estimativa de déficit acumulado de R$ 16,2 bilhões para R$ 12,3 bilhões. Segundo a Conorf, o novo cálculo foi feito após reunião com integrantes da equipe econômica do governo, conforme revelou o sistema de notícias em tempo real Broadcast, do Grupo Estado.

Com a aprovação na Câmara dos Deputados, o projeto que altera as faixas de isenção do IRPF segue agora para análise no Senado Federal. Por se tratar de um tema com forte impacto social e fiscal, o texto deve enfrentar debates intensos nas próximas semanas.

Além de atender a promessas de campanha e pressões de segmentos da classe média, a proposta também precisa respeitar os limites do novo arcabouço fiscal. Qualquer desequilíbrio poderá comprometer as metas de resultado primário estabelecidas para os próximos anos.

Caso o Senado altere o texto, ele retorna à Câmara para nova votação. Se aprovado sem mudanças, segue para sanção presidencial.