O que pode acontecer com as joias roubadas do Louvre
Especialistas avaliam estratégias de venda ou destruição das peças de valor histórico após furto ocorrido no domingo (19)
ROUBONOLOUVREApós o roubo de joias estimadas em mais de R$550milhões no Museu do Louvre, em Paris, especialistas alertam que os artefatos podem, a qualquer momento, ser derretidos ou divididos para escoamento no mercado clandestino. A operação ocorreu no domingo (19) e já gerou série de análises sobre o destino das peças.
Segundo a professora ErinThompson, do John Jay College of Criminal Justice, em NovaYork, “você nem precisa colocálas em um mercado clandestino, é só colocálas em uma joalheria”. Ou seja, mesmo peças menores — colares, brincos — podem ser vendidas sem gerar alarme.
Venda parcial ou derretimento: o dilema dos ladrões - Outros especialistas concordam que o processo de monetização desse tipo de bem histórico exige remoção de rastros. Para ChristopherMarinello, advogado e fundador da Art Recovery International, usar publicamente essas joias é “incrivelmente difícil”. Ele destaca: ao dividir as peças, o roubo fica oculto; ao derreter ou recortar, os artefatos se tornam quase indetectáveis.
De fato, peças de joalheria tão ostentosas e históricas tornamse menos vendáveis se mantidas intactas. Exemplo: um conjunto de joias reais do séculoXIX, com gemas de alta qualidade e design reconhecível. Para RobertWittman, exinvestigador do FederalBureauofInvestigation (FBI), que agora atua no setor privado: “a verdadeira arte num roubo de arte não é o roubo, é a venda”. Ele acredita que, no caso dessas joias específicas, os ladrões não vão conseguir monetizálas intactas — as gemas ou o ouro usado têm características que ainda permitem rastreamento.
Por que pode dar errado vender as peças intactas
Há três obstáculos principais que tornam a venda difícil:
As joias são altamente reconhecíveis, tornadas públicas nas últimas semanas;
O ouro e as gemas datam de dois séculos ou mais, com pureza ou corte que não correspondem aos padrões contemporâneos de revenda;
O comprador, mesmo no mercado negro, assume elevado risco de rastreamento, apreensão e perda total.
Para o vicepresidente do JewelersSecurityAlliance, ScottGuginsky, “não é algo que você possa mover no mercado aberto. Não é nada que possa passar por uma casa de leilões”. Ele reforça que ladrões desse tipo normalmente já têm um plano — mas que isso não garante êxito.
A partir das análises dos especialistas, podemos delinear três cenários principais para o destino dos artefatos:
Desmanche completo: as joias são derretidas, gemas recortadas, metais misturados — tornamse matériaprima comum, perdendo qualquer traço visível de origem.
Venda fracionada: gemas ou metais são separados, reutilizados como nova joalheria (colar, brincos), e vendidos em mercados de menor visibilidade. Esse caminho “menos óbvio” permite maior chance de êxito sem chamar atenção.
Escondimento prolongado: os ladrões aguardam “baixa visibilidade” ou aproveitam contatos para manter as peças intactas por algum tempo antes de tentar vendêlas. Esse caso depende de rede criminal altamente organizada.
Segundo o detective de arte ArthurBrand, o prazo para recuperação das joias ainda intactas é curto: “Se eles forem pegos dentro de uma semana, as peças podem ainda existir. Se demorar mais, provavelmente já estarão desmontadas”. A natureza pública do furto tornouas praticamente “incognoscíveis” para revenda — o que acelera a necessidade de ação por parte dos criminosos.
Contexto do roubo no Louvre - O furto ocorreu na manhã de domingo, 19deoutubrode2025, por volta das 9h30 (horário local). Um grupo de quatro homens, vestidos como operários, usou um montemeuble (plataforma elevatória) para acessar o edifício pelas fachadas da MuséeduLouvre e invadir a galeria das joias reais, a Galerie d’Apollon. Em cerca de 4a7minutos, as peças foram removidas e os ladrões fugiram de motocicletas.
Entre as peças estavam os jogos de safiras da rainha MarieAméliedeBourbonSiciles e da rainha HortensedeBeauharnais; o colar e brincos de esmeraldas da imperatriz MarieLouise; e uma tiara, um broche e o colar da imperatriz EugéniedeMontijo. A coroa de Eugénie foi abandonada pelos ladrões durante a fuga, já danificada.
As perspectivas de recuperação intacta são poucas. Mesmo que os autores sejam presos, há forte risco de que as peças já não existam em sua forma original. O governo francês abriu investigação com dezenas de investigadores mobilizados.
Para o Brasil e para leitores do portal da ACrítica.net em CampoGrande: o caso ilustra como patrimônios culturais podem se tornar alvo de redes internacionais de crime — e como o valor de revenda nem sempre está no volume monetário, mas sim na invisibilidade pósfurto.
O destino das joias roubadas do Louvre se situa no limiar entre o desmanche total e a comercialização dissimulada. O simples fato de ter sido alvo de cobertura global torna inviável a venda aberta; restam aos criminosos caminhos mais obscuros — recortar gemas, misturar metais, esperar o “baque” do crime diminuir. Quanto mais tempo passar, menor a chance de que as peças surjam intactas.