Hugo Henud | 22 de outubro de 2025 - 17h00

Ministério Público da Itália apoia extradição de Carla Zambelli, presa em Roma desde julho

Deputada do PL é alvo de dois processos no STF e pode ser devolvida ao Brasil para cumprir penas que somam mais de 15 anos

POLÍTICA
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) está detida em Roma e aguarda seu processo de extradição. - (Foto: Felipe Rau/Estadão)

O Ministério Público da Itália emitiu parecer favorável à extradição da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que está presa em Roma desde julho, após ter fugido do Brasil para escapar da prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O posicionamento da promotoria italiana representa um avanço significativo no processo que poderá levar ao retorno da parlamentar ao País para o cumprimento de duas condenações impostas pelo STF.

A decisão final sobre a extradição ainda será tomada pelo governo italiano, mas o apoio do Ministério Público reforça o pedido feito pelas autoridades brasileiras. Zambelli foi presa na capital italiana em julho, após inclusão na lista vermelha da Interpol. A ordem de captura foi executada em conjunto com a Polícia Federal brasileira.

Fuga após condenação no Brasil - Carla Zambelli deixou o Brasil em junho, logo após o STF determinar sua prisão preventiva. A Corte de Apelação de Roma autorizou a prisão provisória da parlamentar ao identificar risco de fuga, dada a gravidade das acusações e a movimentação internacional da deputada.

A parlamentar responde a dois processos distintos no STF. Na primeira condenação, foi sentenciada a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica, em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto. Segundo o processo, Zambelli teria contratado Delgatti para inserir documentos falsos no sistema eletrônico da Justiça, entre eles um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.

A segunda condenação, por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal, impôs pena de cinco anos e três meses em regime semiaberto, além da perda do mandato parlamentar, que será efetivada com o trânsito em julgado.

Governo brasileiro acompanha caso de perto - A Advocacia-Geral da União (AGU) é responsável por representar o governo brasileiro no processo de extradição. Em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores, a AGU mantém diálogo constante com as autoridades italianas para assegurar que as decisões do STF sejam cumpridas.

O objetivo é garantir que Zambelli retorne ao Brasil para iniciar o cumprimento das penas impostas. A extradição está amparada em tratados internacionais de cooperação jurídica e em acordos firmados entre os dois países.

Desdobramentos políticos e jurídicos - A situação de Zambelli representa um episódio sem precedentes envolvendo uma parlamentar brasileira em pleno exercício do mandato, foragida e presa no exterior. Caso a extradição seja autorizada, a deputada deve perder definitivamente o cargo e iniciar o cumprimento das penas em território nacional.

A eventual extradição também pode ter reflexos no cenário político, especialmente no campo bolsonarista, onde Zambelli era uma das figuras mais ativas e alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.