Gabriel Damasceno | 22 de outubro de 2025 - 18h30

Anvisa ordena apreensão de medicamentos falsificados contra o câncer no Brasil

Versões adulteradas de Keytruda e Avastin foram encontradas em hospitais e clínicas; distribuidora teve licença cassada

FISCALIZAÇÃO
Anvisa - (Foto: ABrasil)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou, nesta terça-feira (21), a apreensão imediata de lotes falsificados dos medicamentos Keytruda e Avastin, amplamente utilizados no tratamento de diferentes tipos de câncer. A medida foi tomada após a confirmação de que os produtos não são reconhecidos pelas farmacêuticas responsáveis, a MSD e a Roche, respectivamente.

Os lotes falsificados estavam sendo distribuídos para hospitais e clínicas por meio da empresa LAF MED Distribuidora de Medicamentos e Materiais Hospitalares, cuja licença foi recentemente cassada. A distribuidora é investigada por envolvimento em um esquema de falsificação de medicamentos oncológicos.

Operação no Ceará revela esquema de falsificação - A cassação da LAF MED ocorreu após uma operação conjunta realizada em Fortaleza com a Secretaria de Saúde do Ceará e a Agência de Fiscalização do município. Durante a ação, foram encontradas caixas de medicamentos sem registro nacional e com rótulos em inglês, indicando possível falsificação internacional. Além disso, fiscais localizaram notas fiscais que comprovam a comercialização irregular dos produtos.

Keytruda: denúncias e alertas internacionais - A primeira denúncia sobre o Keytruda surgiu em junho deste ano, quando um hospital de Palmas (TO) relatou à Anvisa suspeitas sobre frascos do lote SO48607. O produto, que deveria ter controle rigoroso de transporte e armazenamento, apresentava falhas como ausência de dados na nota fiscal, problemas no acondicionamento e embalagens visivelmente diferentes do original.

A farmacêutica MSD, que detém o registro do Keytruda no Brasil, confirmou que não reconhece o lote. A embalagem possuía rótulo em inglês, selo holográfico falsificado e inscrições em árabe — indícios claros de adulteração. O caso foi reportado pela Anvisa à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em julho, nova denúncia foi feita por um hospital em Vitória da Conquista (BA), com o lote YO19148, também adquirido da LAF MED. As embalagens não continham o número de registro da Anvisa e tinham aparência distinta da versão original. Este segundo caso segue em investigação.

Avastin também é alvo de falsificação - Além do Keytruda, a Anvisa determinou a apreensão do lote H0386H05 do medicamento Avastin, da farmacêutica Roche, utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer, como colorretal, mama e pulmão.

Segundo a Roche, o lote falsificado tinha código semelhante ao de versões verdadeiras vendidas no Brasil, mas apresentava inconsistências no sistema de rastreamento da empresa e diferenças visuais nas embalagens. A Anvisa também identificou o material como falso e proibiu sua comercialização.

Risco à saúde e penalidades severas - A Anvisa alerta que o uso de medicamentos falsificados pode comprometer gravemente o tratamento de pacientes oncológicos, além de provocar efeitos colaterais graves e até risco de morte. O órgão reforça que falsificar medicamentos, especialmente os de alto custo e importância para a saúde pública, é considerado crime hediondo pela legislação brasileira, com penas que variam de 10 a 15 anos de prisão.

A agência segue monitorando casos semelhantes e recomenda que instituições de saúde redobrem a atenção ao adquirir medicamentos, especialmente de distribuidores que não comprovem origem, transporte e armazenamento adequados dos produtos.