Levy Teles | 21 de outubro de 2025 - 09h50

Dirigente da Amar Brasil fica em silêncio na CPMI do INSS após habeas corpus de Toffoli

Felipe Macedo Gomes é apontado como líder de entidade que recebeu R$ 300 milhões; defesa alega falta de acesso aos autos da investigação

POLÍTICA
Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da ABCB: depoente ficou em silêncio - (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

O presidente da Amar Brasil, Felipe Macedo Gomes, permaneceu em silêncio durante seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, realizado nesta segunda-feira (20), após ter obtido habeas corpus do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa argumentou que Gomes não teve acesso à investigação e, por isso, optou por não responder a nenhuma pergunta dos parlamentares.

"Eu orientei Felipe a não responder nenhuma pergunta porque não tive acesso a nada", disse o advogado Levy Magno, que demonstrou insatisfação com a falta de informações. “Qualquer palavra que ele traga, por via de consequência, é potencialmente incriminatória”, completou.

Gomes é apontado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), como responsável por quatro entidades envolvidas no suposto esquema de descontos associativos fraudulentos, que movimentaram aproximadamente R$ 700 milhões entre 2022 e 2025. A Amar Brasil, presidida por Gomes, recebeu a maior fatia: cerca de R$ 300 milhões.

O governo, por meio de seus representantes na comissão, buscava usar o depoimento para reforçar a ligação do ex-presidente Jair Bolsonaro com o esquema, já que parte dos repasses e doações políticas feitas por Gomes ocorreram durante o governo anterior.

Deputado Paulo Pimenta (PT-RS), líder do governo na CPMI, destacou uma doação de R$ 60 mil feita por Gomes à campanha de Onyx Lorenzoni (PL) ao governo do Rio Grande do Sul em 2022. Lorenzoni foi ministro da Previdência no governo Bolsonaro e adversário político de Pimenta no estado.

Durante a oitiva, o relator perguntou se esse valor poderia ser classificado como propina. Gomes respondeu apenas: "Vou permanecer em silêncio".

Tanto Gaspar quanto o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), criticaram o uso frequente do habeas corpus por investigados, apontando que o benefício estaria sendo concedido apenas a "poderosos" como forma de blindagem judicial.

“Temos visto esse mecanismo sendo utilizado como escudo. O silêncio, mesmo garantido, prejudica o avanço das investigações”, lamentou Viana.

Mais cedo, a comissão também ouviu Tonia Galleti, advogada e ex-membro do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), que negou envolvimento em qualquer irregularidade, mesmo após Gaspar apontar que sua família teria recebido cerca de R$ 20 milhões em cinco anos.

“Não sou ladra, não participei de esquema algum”, respondeu Galleti durante seu depoimento.