Talita Nascimento | 20 de outubro de 2025 - 19h00

Maersk planeja iniciar negociações para uso de etanol em navios ainda neste ano

Testes com mistura de 10% de etanol foram bem-sucedidos e abrem caminho para parcerias comerciais com o Brasil, diz executivo

ECONOMIA
Maersk deve iniciar em breve negociações com produtores brasileiros para uso de etanol sustentável em navios. - (Foto: Divulgação)

A gigante global de transporte marítimo Maersk pode começar, dentro de um mês, as negociações comerciais com produtores brasileiros para a compra de etanol destinado ao uso em sua frota de navios. A informação foi confirmada por Danilo Veras, vice-presidente de Políticas Regulatórias da Maersk na América Latina, que afirmou que os testes com a mistura de 10% de etanol nos combustíveis já foram concluídos com sucesso do ponto de vista técnico.

“As discussões serão voltadas para a sustentabilidade. Quem for nos fornecer precisa provar ser sustentável”, afirmou Veras, destacando que a empresa está focada em garantir que a origem do etanol não envolva desmatamento ou impactos ambientais negativos.

Foco em sustentabilidade e certificações ambientais - A Maersk está entre as líderes globais na transição energética do transporte marítimo e tem apostado em combustíveis alternativos para reduzir sua pegada de carbono. O executivo reforçou que, para que o etanol se torne uma alternativa viável e de escala para o setor, será necessário comprovar sua produção com certificações ambientais rigorosas, especialmente no que diz respeito ao uso da terra.

Segundo Veras, o etanol brasileiro pode desempenhar um papel estratégico nessa transição, desde que cumpra os requisitos de rastreabilidade e baixo impacto ambiental. A empresa já opera com 17 navios equipados com tecnologia flex da Everllance, compatíveis com a mistura de etanol, e a meta é chegar a 25 embarcações nos próximos 12 meses.

Potencial global e impacto na produção brasileira - Caso toda a indústria de navegação adote a mistura de 10% de etanol, seriam necessários cerca de 30 milhões de toneladas do biocombustível — o equivalente a 50 bilhões de litros. A Maersk, que atualmente detém aproximadamente 15% do mercado global de transporte marítimo, teria uma demanda proporcionalmente relevante dentro desse cenário.

Morten Bo Christiansen, vice-presidente sênior da Maersk para Transição Energética, destacou que o uso de etanol poderá chegar, no futuro, a até 100% dos combustíveis utilizados, o que representa uma mudança drástica na matriz energética do setor.

Embora a Organização Marítima Internacional (IMO) tenha adiado em um ano a implementação da meta de emissões líquidas zero (Net-zero), a Maersk garante que isso não afeta seus planos de longo prazo.

Produção pode crescer sem desmatamento, diz Atvos - Para atender a essa possível demanda crescente, o Brasil conta com vantagens competitivas importantes. Segundo Caio Dafico, vice-presidente de Novos Negócios da Atvos, o etanol produzido no país emite cerca de 80% menos carbono do que o bunker — o combustível fóssil tradicional usado em navios. Ele também defende que é possível quadruplicar a produção nacional sem necessidade de desmatamento, apenas utilizando terras já destinadas ao agronegócio e otimizando processos produtivos.

A afirmação é reforçada por estudos do setor que apontam o etanol como um dos biocombustíveis mais eficientes do mundo, com grande potencial para contribuir com metas globais de descarbonização.

Brasil no radar da transição energética marítima - Com a possível ampliação do uso de etanol nos navios da Maersk, o Brasil se coloca como um parceiro estratégico na nova matriz energética do setor naval. A expectativa é que, além das negociações comerciais, as próximas etapas incluam também alinhamento técnico, certificações e garantias de sustentabilidade.

A entrada do etanol brasileiro no transporte marítimo global pode se tornar um novo vetor de exportação e um importante ativo na agenda climática internacional, consolidando o país como fornecedor de soluções verdes em escala global.