Cinco livros mostram como a poesia brasileira se renova em 2025
Obras de Antonio Cicero, Jordan, Jarid Arraes, Galindo e autores de slam destacam a força e diversidade da poesia contemporânea
DIA DO POETAO Dia do Poeta, celebrado nesta segunda-feira, 20 de outubro, se transforma em um convite para revisitar a poesia brasileira sob um olhar contemporâneo. Longe de ser uma arte do passado, a produção atual revela uma literatura viva, diversa e profundamente conectada com as urgências do presente.
Neste ano, cinco lançamentos mostram como o gênero se expande e ganha novas vozes, abordando temas como erotismo, negritude, feminismo, geografia e resistência. As obras exploram não apenas novas linguagens, mas também novas formas de estar no mundo por meio da poesia.
Entre os destaques estão a antologia Fullgás, que homenageia o legado do poeta e letrista Antonio Cicero; o impactante Coisa Feita - Dois Preto Apaixonado na Cama, do baiano Jordan; a contundente escrita de Jarid Arraes em Um Buraco Com Meu Nome; a ousadia formal de As Cidades, de Caetano W. Galindo; e a coletânea Amor e Fúria, que reúne poetas dos slams com forte engajamento social.
Antonio Cicero ganha homenagem póstuma com seleção de sua obra - Lançado pela Companhia das Letras, o livro Fullgás reúne a produção poética de Antonio Cicero, um dos mais respeitados intelectuais da literatura e música brasileira, morto em 2023. A antologia contempla seus principais livros — Guardar (1996), A Cidade e os Livros (2002) e Porventura (2012) — além de textos inéditos, poemas avulsos e letras de músicas que marcaram sua carreira, como Pra Começar, O Último Romântico e Fullgás, eternizada na voz de Marina Lima.
O volume conta ainda com posfácio assinado por Noemi Jaffe, que analisa a contribuição do autor para a poesia e a filosofia contemporâneas. A publicação está disponível em versão impressa, e-book e audiolivro.
Jordan e a força da poesia HomoAfroErótica - Com uma abordagem crítica e lírica, o poeta, dramaturgo e compositor baiano Jordan apresenta em Coisa Feita - Dois Preto Apaixonado na Cama um projeto ousado de revisão das narrativas tradicionais sobre masculinidade negra. O autor propõe o conceito de "poesia HomoAfroErótica" como um espaço de resistência estética e simbólica, em que corpo, erotismo e identidade são discutidos sem clichês.
O livro, publicado pela Editora Reformatório, propõe um novo olhar sobre o desejo e a vivência do homem negro, desafiando os limites da tradição poética ocidental com uma escrita potente e afetiva.
Jarid Arraes reflete sobre corpo, desigualdade e resistência feminina - Reconhecida por seu trabalho voltado às narrativas de mulheres e à cultura popular do Cariri, Jarid Arraes apresenta em Um Buraco Com Meu Nome uma coletânea de poemas intensos, organizados em cinco partes — "Selvageria", "Fera", "Corpo Aberto", "Caverna" e "Inéditos".
A autora investiga a experiência do corpo feminino negro, atravessado por desigualdades sociais, racismo e machismo, em busca de abrigo simbólico e afirmação de sua existência. A edição, lançada pela Alfaguara, é ilustrada pela própria escritora, adicionando uma camada visual à força de sua poesia.
Galindo transforma municípios brasileiros em poema - As Cidades, de Caetano W. Galindo, é uma experiência única na poesia nacional. O autor transforma os 5.571 nomes de cidades brasileiras, dispostos em ordem alfabética, em matéria-prima para um poema que questiona os limites da autoria e da criatividade.
O projeto segue a linha da "escrita não criativa", um conceito literário que busca explorar as palavras já existentes, seu som, sua história e sua distribuição. O livro, editado pela Círculo de Poemas, também traz um ensaio reflexivo sobre o processo criativo e os sentidos que emergem da geografia transformada em verso.
Slammers ganham espaço na literatura com ‘Amor e Fúria’ - Organizada por Mariana Félix e João Pinheiro, a antologia Amor e Fúria - Slammers que Escrevem traz à tona a força da poesia falada como ferramenta de expressão política e social. A coletânea reúne textos de poetas que atuam nas batalhas de slam — encontros de poesia performática que ocupam ruas, praças e centros culturais pelo Brasil.
Os poemas abordam temas como liberdade, desigualdade, racismo, direitos civis e amor, com linguagem direta, urgente e carregada de emoção. A edição da WMF Martins Fontes marca um importante registro literário de uma das manifestações poéticas mais relevantes da atualidade.
As obras selecionadas mostram que a poesia brasileira de 2025 não apenas sobrevive, mas se reinventa com vigor. Elas rompem barreiras formais, desafiam normas culturais e revelam como a palavra poética pode ser abrigo, grito, denúncia e afeto. Neste Dia do Poeta, os livros ganham mais do que leitores: ganham cúmplices.