Confronto entre Polícia Militar e indígenas Guarani-Kaiowá deixa 11 feridos em Caarapó
Entre os feridos está a líder Valdelice Veron; operação ocorreu durante ação policial em área de retomada da comunidade Guyraroká
CONFLITO INDÍGENAUm confronto entre indígenas Guarani-Kaiowá e a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) deixou 11 pessoas feridas na comunidade Guyraroká, em Caarapó, na noite de sexta-feira (18). Entre os feridos está Valdelice Veron, uma das principais lideranças indígenas do estado e reconhecida nacionalmente pela defesa dos direitos dos povos originários.
De acordo com relatos da comunidade, os policiais usaram balas de borracha durante a ação. Valdelice foi atingida no abdômen e no peito, mas recebeu atendimento no local e está em condição estável. Outros dez indígenas tiveram ferimentos leves.
Moradores afirmam que os policiais "chegaram atirando, sem diálogo". O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) relatou que a Tropa de Choque da PMMS participou da operação, e vídeos gravados por moradores mostram viaturas se aproximando do grupo antes dos disparos.
Bloqueio e origem do conflito
A tensão começou na quinta-feira (17), quando os indígenas bloquearam uma estrada vicinal para impedir a passagem de maquinários agrícolas. Eles afirmam que arrendatários de uma fazenda vizinha estariam pulverizando agrotóxicos sobre as moradias e plantações da comunidade, colocando em risco a saúde dos moradores.
Posição da Polícia Militar
Em nota, a PMMS informou que a operação batizada de Campo Seguro teve como objetivo "restaurar a ordem pública e garantir a segurança da região". Segundo a corporação, os indígenas teriam "investido contra as guarnições, danificando viaturas", o que motivou o uso de meios não letais, como agentes químicos e elastômeros (balas de borracha).
A Polícia Militar também afirmou ter apreendido duas armas de fogo com integrantes do grupo e reforçou o compromisso com o uso proporcional da força.
Acompanhamento federal
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) informou que acompanha o caso por meio do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários (Demed) e da Funai. Em nota, o ministério repudiou "qualquer ato de violência contra os povos indígenas" e afirmou estar acionando os órgãos competentes para garantir a segurança das comunidades afetadas.
Disputa territorial
A comunidade Guyraroká reivindica o território da Fazenda Ipuitã, retomado em setembro de 2025. O local é alvo de disputa desde 1999. Embora tenha sido reconhecido como terra indígena pela União em 2009, o ato foi revogado em 2016, e o processo segue em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Atualmente, cerca de 200 indígenas vivem em uma área de 50 hectares, enquanto relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reconhece o território original com 11 mil hectares.
A CIDH, órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), concedeu em 2019 uma medida cautelar que obriga o Estado brasileiro a proteger a vida e a integridade física dos Guarani e Kaiowá da comunidade Guyraroká.